29.12.06

2007

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Assim mesmo. Uma página em branco. Para tudo que ainda acontecerá.

26.12.06

Férias

Eu nunca curti tanto o Natal quanto este ano.
É que fiquei tão estressada, cansada e chateada até o dia 24 de dezembro...
Quando finalmente chegou a hora de ir comer, rezar e dormir, tudo foi diversão.

Dormi muito. Comi muito. E até fiz uma caminhada no Parque no dia 25 de manhã!
Coisas que o amor faz, acho eu.

Fico na tevê até o final dessa semana, portanto, ainda escrevo aqui algumas idéias bobas.
Se a preguiça permitir, claro.

Depois, Rio ou São Paulo, faça chuva, faça sol.

Mil planos para 2007, mil idéias, mil objetivos, muitos sonhos.
Tudo depois de um banho de mar em Ipanema.

Até lá, casa aberta para amigos, primos, visitas de todos os lugares.
Manicure, compras, reunião de condomínio, almoço.

Quando ouvir o barulho do mar de pertinho,
O gosto do sal no ar
O vento de brisa nas bochechas
Ah! Venha novo ano!




21.12.06

Pernas fechadas e outros sentimentos

Eu sou uma boa analista de personalidade. Tenho um faro para malucos, psicopatas, retardados, por mais escondidos que eles estejam.
Por isso, me irrita profundamente ser subestimada. Ou julgada erradamente (ou seria erroneamente, minhas amigas jornalistas?).
Tudo bem me julgar, meter o pau, falar pelas costas - mas não me subestimem!

Eu finalmente concluí que sou muito boa no que faço - na minha vida profissional.
Adoro edição. Assim mesmo, igualzinho como eu adoro sushi. E lingerie nova.
A minha paixão pelo que faço não diminui com todas as merdas que edito no dia a dia - nem com projetos falidos.
Mas aos poucos vou descobrindo que sou mesmo uma pessoa importante no processo - que a minha opinião tem um peso, um preço, um valor. Não tô falando só de dinheiro.

Talvez meu pecado seja estar sempre apaixonada demais - me jogo nos projetos, confio nas pessoas, abro meu coração. Não imponho nenhuma condição, não negocio cachê, horário, nada, nada. E o que acontece então é que vou me frustrando com a falta de sensibilidade dos outros que simplesmente não enxergam todo esse meu amor pela montagem.
E ser ignorada dói. Ainda mais quando a gente ama, né?

Vou aprendendo minha lição em passos de tartaruga - para cada 5 projetos, faço uma pergunta nova na próxima negociação. Só que se eu continuar assim, vou morrer editando coisa chata pra gente medíocre!

Resolução de 2007 - fechar as pernas.
Projetos, sim - e muitos - mas haverão ressalvas de toda sorte.
Vou bater o pé e exigir o melhor para mim também.
Funcionou no amor...

20.12.06

Clique

Foi assim - clique!
De um dia e uma noite tensos, irritantes, chatos mesmo, para um segundo de silêncio.
As palavras mágicas?

Ficar desarmada

Para o que vem
Para o que já passou e não pode ser mudado
Para o imprevisto
O tudo que é tão previsível
Para olhar nos olhos dos outros
E ter a chance de me surpreender

Ah! A surpresa é uma dádiva da vida!
Aquele susto de criança
Olhando pro céu com nuvens de animais

Não, não tem nada tão bom
Quanto a surpresa de ver um alguém
Com os olhos limpos
Clareados com colírio
De lentes de contato novas

Desse jeito que foi.
Um clique que me deu
E eu, de um segundo para o outro
Decidi que esse Natal, esse Ano Novo
O filme, a Tevê, a família
todas as coisas vão ter a chance de me ver assim
Desarmada
Amada
Dada
Risada

Êta que esse 2006 foi mesmo o ano das surpresas surpreendentes - se é que me permitem...

14.12.06

Coisas

Sonhos desconexos
Resquícios do dia
Trabalho
Dinheiro
Coisas pendentes

Sono
Viagem à vista!
Trabalho sem fim
Preguiça também sem fim

Tô cansada de mim!
Quero férias de todo mundo
E de todas as pendências!
Menos do namorado

Que amanhã serão 30 dias
Que engraçado
Que maneiro, cara
Demais mesmo

13.12.06

Insônia

Eu tive um acesso de ciúmes deitada na cama.
Às vésperas do aniversário da Silvana, eu duvidei de tudo
Com toda força.

A Silvana, pra vocês que chegaram agora, é a irmão do Fábio.
O Fábio é o tal que me laçou pelo coração.

Então, eu cobertinha, quase dormindo, bateu um ciúme cruel.
Se ele não gosta mais de mim, por que tudo isso?

Fazer as unhas às sete da manhã?
Ah, agora eu vou mesmo ligar pr´aquele outro!
Onde foi mesmo que eu coloquei aquela blusa cor de berinjela?
A minha única sandália preta foi pro brejo - vai a marrom mesmo
Como vai dar tempo de sair do trabalho, tomar banho, trocar de roupa
Secar o cabelo novo!
E ainda encontrar todo mundo na hora marcada?
E se esse todo mundo não gostar mesmo de mim?

Adivinhem - não dormi nada de tanto pensar.
Ai, que arrependimento! Agora, com sono, não tem um pensamento que faça mais sentido que uma boa noite de sono!

11.12.06

Férias, por favor!

Eu quero ficar sem fazer absolutamente nada por uma semana inteirinha.
E isso quer dizer não planejar, não agendar, não fazer telefonemas.
Nem escrever aqui.

Eu quero ter certeza absoluta que a minha vida não é
Simplesmente não é
O trabalho
Os exames
A hora marcada no salão

Eu vou ficar de pijamas
Ouvindo a chuva
Comer pizza fria
Pegar a correspondência descalça

Dormir à tarde
Ver o dia amanhecer na rua

Dançar na segunda
Cozinhar no sábado

Cansada do filme
Cansada da Tevê
Cansada das festas inúmeras
Que ainda nem aconteceram

Um cansaço tão grande
Que me dá energia pra correr com tudo
Me livrar de tudo
E deitar no seu colo

8.12.06

Cálculos desiguais


Um vestido de quase 500 reais
A senhora que pega o ônibus pra Papuda
O presente de 300 reais
E os biscoitos espadaçados na entrada do Pavilhão
O tanque de gasolina cheio de 100 reais
O lotação cheio que não passa do portão - caminhada de 5 quilômetros
Almoço de 50 reais
Pra falar da violência sexual entre detentos

Um churrasco de aniversário de 25 reais
Uma viagem no final de ano que nem entrou nos cálculos
O outro vestido
Os outros presentes
Os tantos jantares...

Durmo como uma pedra
Não penso nisso quando a cabeça bate no travesseiro
Sonho com outras paradas
Não acordo consciente que a água quente do chuveiro
É causa e consequência de tanta desigualdade

Sou filha única da burguesia
Minha meta é pagar a mensalidade da casa própria
Trocar de carro
Comer sushi
Casar

Sou tão igual a todo mundo
Que só o que me salva
É amar alguém tão diferente de tudo.
E de todos.

7.12.06

Das vésperas do Natal


Dessa ansiedade que antecede o Natal, eu digo
Eu amo as luzinhas em todo lugar
Os vários tons de vermelho
O coral na madrugada chuvosa

Agora, putz - como detesto o resto
O shopping center
O dinheiro que já acabou
Os gorrinhos, as musiquinhas, a neve de mentira - essa não!
O ter que presentear
O ter que comer
O ter que vestir isso ou aquilo
O ter que amar ao próximo como amo a mim mesma.

O amor divino
Trazido por Jesus
Que seria o porquê de todos os Natais
É presente em mim, se não nos meus atos, pelo menos nas minha intenções!

Eu não preciso do dia 25 de dezembro
Pra lembrar
Que o amor
É a maior mola propulsora do mundo

Na sequência, claro
O desejo de poder
A raiva
O medo
Só que todos esses, pela falta do primeiro.

O amor, minha gente, eu tenho de sobra.
E aí, o Natal vira uma espécie de cobrança de dívida com a sociedade...
ai, ai, como se já não bastasse a dívida da casa própria, do Visa, do cheque especial...

Feliz Natal aê.
Mas principalmente, Feliz todo dia! Ha ha ha ha!

6.12.06

Semana três

O vestido pronto
Os pratos sujos
Cheiro de café

Converas na madrugada
Madrugadas que não tem fim
O fim que é só o começo

Tem quem fale
Tem quem ame

Tem que xinga
E os que riem

De tudo de tudo

O bom mesmo
É só estar aqui
Com você!

5.12.06

bebê

que coisinha mais linda é um coraçãozinho que bate forte dentro da barriga da Rafaela!

o grãozinho de arroz que é meu sobrinho
e o tanto de amor que transborda por causa dele

o curto espaço de tempo
e o amor tão grande que já é dele

...

se me dissessem que eu estaria aqui, nessa vida, hoje - eu me dobraria de tanto rir.
e ó. tô aqui, sim.
firme, forte, feliz, feliz, feliz.

sou titia
sou namorada
sou menina boba
de jeans e tênis, escolhendo salto alto pra tão sonhada festa!

1.12.06

Minhocário

O meu irmão me avisou, a Fabíola sugeriu, a terapeuta aprovou:
Eu não vou criar minhocas.

Não dessa vez.
Essa coisa de ter um minhocário é bom porque você não precisa esperar as minhocas aparecerem do nada na vida.
Mas eu ando muito cansada de criar minhocas onde não há terra, não chove, não tem porquê.

Vou ter um minhocário pra quê? Ficar cuidando, abanando, levando pra lá e pra cá.
Eu não!

Além do mais, as minhocas vão surgir. São seres vivos, como nós, e uma hora na vida elas aparecem.
É certo que dá pra pressentir, dá pra prevenir até.
Mas que elas vêm, ah, isso vêm!

Por isso - decidi ouvir todo mundo e o meu euzinho do coração:
Joguei meu minhocário no lixo - não se preocupem, elas passam bem - mas longe de mim.

E vou viver essa história sem minhocas na caixola.

28.11.06

Namoro

Era bem tarde da noite e chuviscava.
Desliguei a ilha.
Cheguei na locação.
Sinto falta de trabalhar como produtora - o frisson do set de filmagem é uma cachaça.

Vi o Fábio de longe.
Esperei o "corta" e fui lá dar um alô.
Sério, não pensei em nada mais que um alô.
Até porque, ele sempre fez o tipo homem casado ou namorando.

"vou pegar seu telefone pra gente tomar um café qualquer dia"
- Ué, pensei. Por que não pega agora e me liga amanhã? Hmm, coisa de homem comprometido

Fui de novo no dia seguinte.
Ele pediu meu número.
Mas não esperou pro café. Ligou ali mesmo, no set.
"só pra confirmar se você me deu o número certo."
Me deu um tremendo frio na barriga.

Na terceira noite, eu fiquei mais de quatro horas no frio e na chuva
Ele me trouxe um café.
Mas não falou muito. Cansaço? Fez as pazes com a namorada? O tipo misterioso?
Vou ligar pra ele antes que ligue pra mim.
Melhor saber logo quantos anos é casado ou se está separado...

E na festa do final do filme
Fui gripada e curiosa.
Ele foi, conversou, conversou, sumiu, veio e disse que tava cansado.
Prometeu me ligar na sexta.

Não ligou.
Mandei uma mensgaem da casa do Sérgio.
"- puxa, como faço pra me redimir?"
Ah! A deixa que eu queria:
- Pode me levar ao cinema no domingo

Vimos Volver. Ele no escuro olhando pra mim.
Comemos crepe. E a conversa rendeu até empilhar as cadeiras.
Na despedida, um beijo no rosto.
Me bateu um medo terrível desse cara ser o homem da minha vida.

Mensagens vão e vem, mais um cinema na quarta.
Vimos Pequena Miss Sunshine. As mãos no escuro entrelaçadas até o fim.
E a conversa rendeu até a sala de estar.
Na despedida, o beijo sorrindo.
E uma desconfiança incrível de que esse homem é o cara da minha vida.

Na sexta, lanchinho na ilha.
No sábado, casa, comida, filminho.
Então, no domingo, sumi - eu tinha que!

Mas o coração já batia forte
O peito ficou apertado
Prometi andar devagar
E um dia já estava demais!

Liguei.
Devia?
Quem liga?
E a certeza absoluta veio com todos os outros dias que seguiram

A primeira semana,
A segunda semana,
Tantos sonhos
E muitos outros planos

Tem tudo pra encher uma vida.
Tenho uma vida pra sentir isso tudo.



27.11.06

Ai...


Meu corpo inteiro dói
Estou exausta de estar cansada sempre
Não me interesso por nada
E morro de preguiça
De tédio

Porque não tem mais nada na minha cabeça
Só no meu coração
Tudo no meu coração
Você no meu coração

24.11.06

De mim

Tudo que escrevi aqui
são pedacinhos de mim que vou juntando
até quando não cabe mais

Daí, ou escrevo, ou falo, ou choro
Ou os três.

E aos poucos vou me enxergando
Do lado de cá da tela
E o reflexo de mim,
Nos outros e no mundo

Eu vou perdendo o medo
E ganhando coragem

E de repente,
como se nada fosse ao contrário
um súbito desejo
um força louca que nasce
de aprender a sonhar

Desses sonhos simples de todos os dias
Que eu nunca me dei chance de ter
E via nos outros com um quê de espanto

Esses sonhos sem graça
De ter uma casa
De ter um bichinho
De ter uma viagem pro Ano-Novo
De jantar com amigos
De dormir
E de acordar
Com os sonhos simples
Com você.

23.11.06

Enfim

firme e leve
certeiro e doce

salgado e macio
meigo e intenso

me deu um susto enorme
e agora

eu só vejo a hora de te ver
do tempo parar

de rir mais uma vez
e de novo dizer
jura? jura? jura?

21.11.06

Saco, viu?

coisas que me irritam:

ser subestimada
fazer o que amo e ninguém notar
ter que dissimular
fingir que não é comigo pra não gritar
calar para não mentir

fazer escolhas chatas
aguentar gente chata
ficar chata

ouvir o óbvio
obedecer regras que não se aplicam

fazer de conta que não ligo
que não quero
que não presto atenção
que não dói

silêncio quando deveria falar alto

pensar pensar pensar pensar





20.11.06

Clichê

Quando eu menos esperava
Na hora e no local mais insólitos
No tumulto da minha vida de hoje
No quase vazio coração

Sem nenhuma pretensão
Esperando por não dar em nada

...

O tornado que varre a rua
É de leve, mas intenso
O sono que chega de dia
É risível

Eu não tenho medo de nada
Não?
Todo temor do mundo
Trepida
No meio da caixa torácica
Bem ali, onde fica o coração

17.11.06

foi hoje

muito sangue escorrendo
gente prensada em paredes de acrílico transparente
acordo num sobressalto, com sono e preguiça.

café na padaria,
corrida pra produtora
terapia

almoço na vovó
pedro na escolinha
tevê

e enquanto isso -
penso penso penso
desfaço
digo
mendigo

anseio a calma
e serenamente me vejo em tudo
desse lado de cá.

pra entrar no lago,
preciso pisar no lodo.
não sei a distância até águas límpidas.
e nem se elas virão!

posso dar passos pra trás
ou me jogar no lago de um vez
mas dessa vez, eu vou andar
no lodo, nas pedras,
até a areia macia, branca
no meio do lago

até o amor chegar.




15.11.06

O filho do Bruno

Já disse muitas vezes, porque sinto
Meu irmão e eu já treinamos em outra vida
E esta é mesmo para sermos somente amigos, unidos, irmãos
No melhor sentido da palavra - amor

Com o Bruno, eu levantei da queda
Eu caí do salto
Eu enxerguei o mundo radical
E chorei a dor que não era minha

O Bruno não divide comigo porque não precisa
Não termina a piada porque já sei
Me dá bronca, me instiga, me julga, me perdoa - sempre

E meu amor por ele cresce com a idade que avança
Um pra mim, um pra ele

Então o Bruno me conta
Que é pai
Do bebê que é sementinha na Rafaela
Que sempre está linda,
Mas agora, com olhos mais amendoados, mais brilhantes

A idéia que sou tia
A vontade de chorar e de rir
É tão nova
E tão melhor
Que passar no vestibular
Que ter meu apartamento
Que trabalhar no que amo
Que viajar para qualquer lugar

E um paixão por uma pessoa que ainda não é
E um amor por ser de quem amo tanto

O meu irmão Bruno é uma das tantas almas gêmeas dessa minha vida
E talvez de todas as outras

Antecipo as mil alegrias dos nove meses de espera
Pelo bebê que será meu sangue
Meu parente
Meu pequenino
Meu amado, já

E de súbito
Quero tanto ser melhor
Quero tanto ser mais
Só porque sou tia
Imagina
Sou tia!

14.11.06

Eu não lembro do meu sonho.
Acordei com sono, com preguiça, com vontade de ficar o dia esperando a noite chegar.

Eu amo trabalhar
Mas quero mesmo ficar em casa,
Fazer as unhas,
Pensar na roupa da festa

Eu amo dançar
Mas até pra festa eu não quero ir
Pra ficar em casa
Tomando vinho,
Jogando conversa fora

E enquanto o tempo não passa
E a hora não chega
Me antecipo
De ansiedade
De dúvida
De culpa.

E se der tudo errado?
O erro sempre será meu.

13.11.06

when it rains, it pours.

e até agora, nenhum na mão, mas tantos voando ao redor!

12.11.06

aconteceu de novo!

acordei de um sonho bom.
e veio uma ansiedade monstra.

e pode dar tudo errado
e eu estar totalmente errada
e me decepcionar desde já
e daqui a pouco lamentar
a cara de pau
a agressividade
o furor que inventei na minha vida.

mas eu acordei de um sonho bom

e vou atrás dele
até enxergar de novo o real.

11.11.06

semente

eu mandei fazer chover na minha horta.
mas talvez, as sementes estejam afogando.
e não é bem de água que a horta precisa.

a minha horta precisa de sol, muito sol
e uma brisa leve e morna
da terra macia e cheirosa

e de tempo para cada sementinha que já plantei.
será que de tanta chuva, as sementes morreram dentro da terra?
afogadas, podres, fim?

se eu mandar parar de chover
o sol vai sair com certeza?
e a brisa, promete soprar?

será que matei todas as sementes?
ai, onde arranjo mais dessas
semente de cara legal que lembra de mim pra pegar um cinemix?
de bom humor, de gostar de dançar, de falar, de ligar pra falar alô?
de dormir, e viajar, e sonhar alto mesmo se não for pra ser?
de ir no mega casamento de dezembro, bonitinho, do meu lado?
onde, onde, onde?

10.11.06

essa sensação de querer que o outro queira o que eu quero que ele queira. fazer as pessoas se encaixarem no meu pequeno cenário. há tempos eu não sentia tanta necessidade de voltar a ser meu velho eu. e hoje de repente, tudo ficou sem sentido. contei minhas peripécias com total desenvoltura e senti um descaso de mim mesma com tudo que tenho vivido. mas no fundo, não é em vão. estou treinando, exercitando, aprendendo os meus limites de mulher. só que ainda assim eu sinto uma falta imensa do telefonema que nunca chega. e da falta que um alguém faz. agora, doente, com febre e ninguém para saber se melhorei: e toda minha crise cabe nessa folha de papel. é que eu quero amar e ser amada... e as pessoas passam pela minha cabeça e eu sinto um ímpeto de ligar. mas quando messo a ação, desisto. não vale a pena gastar o cartucho e me sentir desamparada mesmo assim. eu cuido de mim. a vida é gigante e não cabe só no ato de amar um alguém. foi bom ir à festa, ver os olhos olhando pra mim. e escolher ir pra casa sozinha porque é melhor ser sincera comigo mesma vestida - porque nua, é mais difícil encarar o tamanho do erro. eu liguei pra ele e foi uma conversa leve, como sempre. mas algo me diz que ele não me quer por perto... então fico onde estou. porque de novo, é mais fácil decidir essas coisas com a roupa no corpo... eu tenho me estranhado mas não quero voltar atrás. não sinto saudades de quem fui e nem de ninguém em particular. mas eu sinto saudades do conhecdio, do sabido, do certo. da verdade absoluta, da pergunta com resposta. coisas que há tempos eu não tenho. eu joguei fora as caixinhas e tenho que construir coisas novas para por no lugar. mas há momentos, como agora que o cansaço bate e até o arrependimento bate - por que jogar fora? o que deu errado mesmo? até aqui, também não deu certo... pra quê? uma vontade de ouvir a voz de alguém - qualquer alguém - no telefone - dizendo a verdade: que bateu uma solidão, que pesnou em alguém, que me ligou; mas eu vou desligar o celular para não correr o risco de falar o que não quero para quem quer que seja... pela primeira vez, de verdade, eu não quero mais uma relação, mesmo ainda com vários sentimentos. sou eu quem não quero mais alimentar uma ilusão, uma amizade, um sonho. eu tenho certeza que vai acontecer para mim. e será muito em breve. e estou sabendo o que eu estou dizendo - que eu sei, eu sinto, e tem um lado que torce que seja ele - que em muito pouco tempo, os ventos do amor recíproco vão soprar por essas janelas novas, abrir as rugas das cortinas, resvalar nas paredes que cheiram a tinta branca. esse amor já tem meu endereço, com cep e tudo mais, e aguarda pacientemente sua vez de entrar na bolsa do carteiro.

9.11.06

É sério. Eu só quero dormir.
Mas a vida me empurra pra fora da cama,
Coisas a fazer, gente pra encontrar.

Juro, eu só penso em deitar na minha cama maravilhosa e sonhar todos os sonos.
E lá vem o telefone, a campainha, o interfone
O homem da persiana
A costureira
A agenda do fim de semana lotada

Eu quero fechar as cortinas,
Por um som baixinho
Uma camiseta velha
Pular dentro das cobertas
E mal fechar os olhos

Mas então já é segunda
E de volta aos dois empregos
Ao apartamento inacabado
Aos tantos sonhos que não viram realidade.

8.11.06

Fuga

Estou cansada
Doente

As coisas acontecendo
E eu em casa, louca pra entrar debaixo das cobertas

Quero ser a Bela Adormecida
Só pelos cem anos de sono profundo

Corri tanto atrás
E agora, quero parar
Ficar quieta

Shhhhhhhhh
Silêncio...

7.11.06

Invenção

Estou rodeada de passado por todos os lados.
Por onde ando, as músicas que ouço. O que faço.

Mas evito, viro o rosto, finjo que não vejo.
Invento um todo dia, toda hora.
Não quero ter o tempo de roçar no passado...

Impressões que não impressionam

Comecei a escrever, apareceu uma pessoa no msn, o computador travou.
Tenho zil coisas pra resolver e uma preguiça gigante de postar aqui minhas impressões.

Por agora, cinco filmes:

A vida secreta das palavras
A fonte da vida
O homem da embaixada
Candy
Wall Mart

Nessa ordem de preferência, no Festival Internacional de Cinema de Brasília.

...

Não vou mais escrver sobre sexo. Enjoei. Até porque, quem muito fala, pouco faz...tô dando muita bandeira, hehe.

A seguir cenas dos próximos capítulos...

5.11.06

Sexo : hormônios

Descobri que masturbação é bom logo depois que fiquei menstruada pela primeira vez.
Acho que o efeito dos hormônios bateu forte.

Talvez não aconteça com todas as mulheres, mas eu sou muito atenta ao meu corpo.
Eu sinto vontade e faço.
E sei que estou com mais vontade quando estou ovulando.
E sei qual ovário do mês.
Então funciona assim:

Semana um - mods, cólica, dor nas costas, pernas pesadas, preguiça, preguiça, preguiça.

Semana dois - magrinha, fininha, lindinha, zen total...

Semana três - ovulação (cólica diferente se é o ovário direito), avalanche de hormônios que desaguam nos lábios, na barriga, no corpo todo.
Impossível de resistir - e pra quê?
Essa é a melhor semana pra qualquer tipo de sexo - sozinha ou acompanhada. Com álcool, com drogas ou no seco mesmo.
Até aqui, passei a maior parte da minha vida adulta solteira, e a semana três já foi vivida solo de mil maneiras - cenários, astros do cinema, o vizinho do lado, leituras, sonhos eróticos dos mais variados - sério, muitas vezes a semana três sozinha foi melhor que outras acompanhada...

Semana quatro - TPM, inchaço, vontade de chorar, de comer carne, de comer chocolate, de bater em algúem, de chutar um cachorro, de enfiar o carro no primeiro muro! - as minhas TPMs estão ficando piores com o avanço da idade. A vantagem é que envelhecer me trouxe a serenidade de administrar o demônio que desce em mim. O meu corpo reclama, minha mente faz o melhor para amenizar o inferno. E tem algo de sexy nisso também.

Na verdade, masturbação é bom em qualquer semana. Sexo então, nem se fala.
Mas na semana um por exemplo, não dá pra deixar rolar se for a primeira com o cara.
É que eu entendo a menstruação como um exorcismo orgânico: joga-se fora tudo que não cabe mais, é um alívio, é como vomitar quando o estômago tá ruim. E sexo tem um outro movimento, muito mais de acolher, receber...

E tudo isso, com as bênçãos dos hormônios pululantes - que sua o pescoço, que dá água na boca, que incha os seios, que faz o corpo querer, que passa por cima dos pensamentos, que comanda as mãos, os quadris, e faz do sono o melhor lugar para se estar depois do sexo - só ou acompanhada.


4.11.06

Sexo : tato

O meu casamento acabou porque o sexo não era bom. E nem frequente.
Eu acho que é a primeira vez que eu assumo isso assim, na lata.

Fiquei com o mesmo homem cinco anos.
Eu era apaixonada.
Mas, o incrível é que o sexo era ruim.
Era pouco,
era rápido.

Pode ser a coisa latina
Ou porque no exterior nasce uma carência que não é exatamente sexual.
Mas de toque.

Aquele tocar suave no ombro.
O encontro das mãos,
As pernas entreleçadas em cima do sofá.
Massagens, massagens, massagens.

Não tive nada disso por cinco anos.
Então, quando era hora do sexo - uma vez por semana, no sábado de manhã -
tinha que ter tudo - tocar tudo, encostar, tatear, esfregar.
Mas sempre acabava antes do tudo...

O tocar às vezes nem é assim tão sexual.
Um abraço longo de amigo. E eu não tinha amigos que me tocassem.
Beijinhos nas bochechas. E não havia crianças por perto.
Cócegas nos pés. Que falta fazia meu irmão!

O toque é sempre essencial.
É estímulo no maior órgão do corpo humano!
A pele.
Que serve pra tanta coisa!
Que deve ser tocada com frequência, por tudo e por todos!

Eu não sou pegajosa.
E nem gosto de gente que gruda em mim.
Mas, no minuto que pus os pés de volta no Brasil,
e fui abraçada, beijada, tocada pelo sol!
O casamento acabou.
Porque eu achei minha pele de novo, nas mãos dos outros!

Então tive um parceiro que só perdeu o trono de melhor sexo esse ano!
Era minha sede de toque
Eu queria muito
Tudo
Toda hora

Eu não fui apaixonada pelo paulista.
Mas ele curou minha pele.
E me lembrou que tocar,
A pele,
é quase um órgão sexual em si.

.......

Os hindus acreditam que a energia do seu parceiro fica com você por sete dias. Pronto. Hoje é o último dia.

2.11.06

Sexo : química

É isso mesmo, aquela que estudamos na escola.
A tabela periódica do corpo. Cada elemento na sua devida casa.
Mas quando combinados, tantas possibilidades!

Química de pele, de cheiro de jeito.
Um sorriso de canto de boca que pode derreter uma montanha de gelo!
A língua, a mão, o perfume no pescoço... já falei da língua?

E os sinais químicos que temos - nós os humanos - são tão estupidamente pré-históricos que nem vale a pena falar deles. Por favor, leitores, todos nós sabemos do que estou falando.
É um saber do sentir, não do explicar. Então, fodam-se os cientistas. E fodam-se com orgasmos múltiplos, devo acrescentar!

A minha antena detectora de química funciona bem e rápido.
Eu tenho também um apito interno que sabe quando a antena do outro dectou química por mim.
E no decorrer dos anos, acoplei um dispositivo que anuncia, cada vez mais cedo, que mesmo quando a química será perfeita, os resultados serão desastrosos. Aí, aborto a missão sexo.

Pois é, porque há casos de química perfeita para explosivos. Essas são ótimas durante a trepada, mas a enxaqueca depois não vale a pena...

E agora que já tenho anos de quilometragem - perdi a virgindade com 19 anos - tenho 34 anos - (e não, não vou dizer quantos parceiros já tive porque isso é idiota demais) - admito: a química é cada vez mais uma empatia de pensamentos, de ironias, de sacações, de diálogos intrigantes, tudo somado aos sinais do corpo, que a antena capta tão bem.

Química, gente, é igual sushi. Se for bom, você já sai pensando quando vai querer comer de novo. E um dia, acorda com umas ganas incontroláveis de repetir a dose!


1.11.06

Sexo : amasso

E então senhoras e senhores, vem o tal amasso.
E amasso é bom de todo jeito.
Aquele do canto da festa, que a sacanagem é limitada pelo contexto.
O do carro, limitado pela geografia.
Mas amasso toda hora, em qualquer lugar, é bom demais.
Só não dá amasso no cinema.
Dividir a atenção não tem a menor graça. Não. Deixa o amasso pros créditos pelo menos!

No amasso, o timing é de suma importância.
Porque se a mão vai por debaixo da blusa cedo demais, irrita - tá me achando fácil assim, é?
Agora, se demora demais pra desabotoar o botão do jeans - ô meu filho, acorda!

Parar e recomeçar também é ótimo. O esfria, esquenta funciona que é uma beleza!

Minha gente, cada um é cada um, como diz meu sábio tio José.
Mas amasso tem pra todos!
Escolha o seu, pratique o esporte.
Sem pressa, sem querer ser melhor que o outro.
O melhor mesmo, é ser bom pra você!

31.10.06

Sexo : beijar

Uma pessoa se surpreendeu com o texto anterior.
Achou que me expus demais.
Adorei.
Se incomodei um, é sinal de que incomodo muito mais.

Então, aí vai.

Eu vou falar de sexo mesmo.
O bom, o tal, o maravilhoso mundo encantado dos adultos.

É, porque sexo mesmo, só sendo gente grande pra entender.
E gostar.

Eu adoro sexo.
Fazer, pensar, ler, falar. Nessa ordem.

E a partir de hoje, começo aqui, uma das várias postagens sobre o assunto.

...

Eu vou falar de beijo.
Às vezes fico assim, olhando as pessoas e dizendo,
Esse eu comia, esse não, esse talvez.
Esse tem cara de quem beija bem, essa aí, se eu gostasse de mulher, eu encarava...

Já beijei na boca de mulher. Melhor, fui beijada. Mas foi café com leite porque não teve língua.
A menina era uma gata. Só que achei que tava beijando uma esponja, não deu.

Já beijei viado. Mas foi pra dividir o Ecstasy que tava na ponta da língua dele. Eu tava nervosa demais, não deu tempo de dizer se foi bom. Outro viado já me beijou. De língua. Ele tava se exibindo na mesa do bar, me senti usada.

O melhor beijo mesmo é aquele que eu quero muito. E eu consigo querer muito um beijo num intervalo de 30 segundos.
Ou quando o beijo chega e é muito muito muito melhor do que eu esperava!
Claro, já julguei mal - achei que o beijo seria tudo de bom, e fica aquela coisa mais ou menos.
E por fim, o beijo que de tanto beijar, fica irresistível - esse geralmente, vem com a paixão.

Um beijo na boca, de língua, lento, molhado é o indício de química na certa.
Se eu beijar e sentir um quentinho na boca do estômago...se o beijo vier com a mão segurando a nuca...e se o beijo for seguido de um olhar longo dentro do olhos
E beijo afobado? Apertado? Respirando forte? Meio rindo, meio tenso? Que não dá vontade de se largar? E deixa o rosto avermelhado, do batom, da barba, dos dentes...

Senhoras e senhores, eu sou mulher de dar!
Não fico economizando vontade, não! (já basta as tantas outras vontadinhas na vida!)
Do beijo, já sigo logo pro amasso.

E o amasso, leitores, fica pra amanhã!

29.10.06

2.8

Eu encontrei com ele na quinta-feira.
Bateu um súbito baixo-astral, desliguei a ilha e fui pro bar.
De cara, os olhares se cruzaram.

Desde agosto, nunca mais tinha visto a figura.
Não que quisesse, juro.
Mas, marquei o número no celular...

Oi, oi, tudo bem, tudo.
Daqui a pouquinho, do meu lado dançando.
E falando no ouvido, brigando com a altura do som.

Fui pagar no caixa.
- Tem alguma chance da gente ficar junto hoje?
Ix, na lata. Adoro gente na lata.

Coisa de adolescente, no carro, beijo, pára-brisa embaçando.
Então, tchau. Fui pra casa sozinha mesmo. Melhor assim.

E no sábado, toca meu celular.
E mais tarde, de novo.
E retornei, mais tarde ainda.
Aí, lá em casa.
...

Ele tem 28 anos!
Aquela fissura da pouca quilometragem.
A química é boa, sim.
Tem umas idéias tranquilas, seguras, serenas...
Daqui seis anos, vai ser uma figura sensacional.

Não, o coração não disparou.
É, ele falou dele, pelos cotovelos.
Perguntou pouco de mim, ofereci umas informações gratuitas mesmo assim.
Ele é na lata, não tem papas na língua, me fez rir.

Foi embora; não pediu, eu não convidei.
Dormi sozinha, porque é melhor assim.
Ainda é melhor assim.

27.10.06

Xô, Esperança!

Eu abri a sacada pra pegar uma garrafa d´água no frigobar.
Na porta branca, o louva-deus verde.
Calmo.
Eu cutuquei ele com a pontinha da caneta
Dá licença aí, dona esperança, que eu tô com muita sede.
Ah, ele saiu do meu caminho,
E entrou dentro da sala!

Agora vi tudo.
De que adianta matar a sede, com um animal dentro da ilha, olhando pra mim?

Cutuquei o louva-deus de novo, e do chão ele voou para a parede branca
E da parede, para o porta-lápis
Essa esperança que chega cada vez mais perto de mim!
E não me deixa trabalhar!

No último cutucão,
Ele voou para a parede azul.
Ali, nenhuma chance de me sentar na cadeira preta!

Desci o elevador pensando na estupidez de chamar o zelador para pegar um inseto
Que deveria ser sinal de boa sorte!

- Mas o que é louva-deus?
- Aquele que parece um gafanhoto mas é do bem, sabe? Um todo verde, que traz boa sorte!
- Ah, esperança!
- Hmm, eu chamo de louva-deus. Mas traz mesmo boa sorte, né?
- É, se entrar voando na casa da gente, traz boas novas.

Entrou, pegou pelas patinhas esquálidas, saiu com o louva-deus pelo elevador.
- Pronto, pode levar a esperança com você!

Aqui sozinha, seria bom ter uma coisa viva pra me fazer companhia.
Vou trazer uma plantinha. Essas são verdes mas não voam.

Hora de morte.

Se no final tudo der certo, será muito parecido com o que tenho hoje.

Então, se este é o final da história,
Chegou minha hora de morrer.

Eu quase bati o carro.
E quando tudo anda bem assim,
Acho de verdade que é minha hora de partir.

Nunca fui de sonhar muito.
O que faço, invento pra ter vontade de
Se abrir mão
Ou deixar sem fazer,
Não haverá tanta diferença assim

Se causei impacto
Ou não
Isso também passará

Perdi meu medo de ser esquecida
Não me lamento se outros seguiram em frente
E eu fiquei aqui

Esperando essa hora de agora
De morrer
Feito tudo que fiz
e deixado tanto a fazer

25.10.06

Sonhei!

Eu peguei o carro do meu irmão emprestado e saí dirigindo.
Cheguei num parque, que apesar de ser dentro da cidade, era imenso, com um rio que cortava o verde. Havia pedras, água muito azul, árvores grandes.
Segui dirigindo, fora do asfalto, pela relva, depois pelas pedras, cada vez mais perto do rio.
Sabia que estava perdida.
Então parei o carro bem em cima de uma rocha enorme, que só então me dei conta, estava no meio do rio!
Como havia parado ali?
E como vou sair dali, dirigindo?

Fui buscar meu irmão.
No caminho, expliquei o que tinha acontecido.
Ele, meio irritado, chegou no local onde o carro estava.
Agora, estava lotado de gente! Era uma área de lazer, pessoas pulando das pedras, nadando, tomando sol!
Subimos até o topo de uma rocha - o rio subiu, o carro estava submerso!

Lá de cima, de muito alto, por entre as rochas, vimos uma mancha escura na água.
Era ali que o carro estava!

Num ímpeto, meu irmão pulou.
Vi seu corpo diminuindo, diminuindo, até cair na água -
Veio o silêncio das profundezas.


Aqui de cima, eu entendi tudo.

Tem um lado meu, mergulhando sem hesitar, no fundo do rio.
Meu outro eu, está lá em cima, observando, à espreita, admirada e assustada.
O que vale tanto a pena um salto tão profundo?
Eu inteira sei bem o que -
buscar o que deixei de mim por aí.
Trazer à tona, achar, resgatar.

E no fundo, não é só que está submerso.
Mas o salto, o salto para o mais profundo azul
Esse, sim, vale
E não é a pena
É a salvação.



24.10.06

Não ser não

Eu acordei com uma vontade de não ser.
De ficar no escuro.
De ser a moça do filme,
O homem da foto
A cigarra na janela

Menos euzinha aqui.

23.10.06

Tempo e vazio

Tem um vazio aqui.
Ufa!
Ai!
Nossa, nem é um vazio tão grande.
Eita, mas fica grudado na cabeça, não sai, não sai.

Estranho,
Um vazio que eu quero que seja

Racional

...

Hora de me afundar no trabalho.
Nos amigos
No álcool - ai, que preguiça da dor de cabeça!
Na casa nova

De rir forçado até o riso vir natural
De gostar sem querer, até ser espontâneo
De tratar mais que bem, até voltar pra mim em dobro.

Essa hora que sempre volta!
Que cansa de saber dela
E estar nela!

Eu vou esquecer
Ignorar
Fazer de conta que não é comigo

Quem sabe passa sem me perceber
Mais esse vazio
Que não é dos grandes
Mas ainda assim, vazio?

22.10.06

Rei morto, rei posto.

O Rei está doente. É hora de preparar seu sucessor e a festa da próxima coroação.

E como sua corte o amava muito houve silêncio, sem cor, e sem lágrimas.

A corte entristece, e mais que nunca, tudo ficará à disposição de Vossa Alteza. Não haverá festa, nem tempo livre. Tem-se que prestar a devida atenção às mazelas do bondoso Rei.
Faça chuva, faça sol, a corte deve agora viver somente para manter o Rei vivo.

Passa-se o tempo e o Rei nunca nunca melhora. Só piora...

Se fosse em outras cortes, esse tempo seria tortura, seria impossível, seria em vão. Desistiriam de velar aquele bom homem, voltariam aos seus trabalhos, suas rotinas, suas outras alegrias.

Não essa corte. Ficou ali. Leal. E cética.
E mais tempo ainda se passou.
Numa noite, o Rei chamou a todos, e de sua sacada, bradou:
- Eu vou morrer esta noite.
A corte sucumbiu num choro sem fim.
O Rei se retirou e poucas horas depois, ouve-se a notícia.
O Rei morreu.

E então, como num passe de mágica, o choro daquela corte parou de escorrer. Das lágrimas nas faces surgiam pequenos vaga-lumes dourados que voavam imediatamente.
As estrelas cadentes iluminaram a escuridão.

E ficou impossível.
E virou uma força gigantesca.
E a corte inteira, todos juntos, sorriu aos céus.

Ao amanhecer, o sucessor será visto da mesma sacada de onde o Rei se foi.

num pequeno parêntese, nessa história, ainda estamos na parte "o rei se retirou e poucas horas depois..." - mas na hora que passar para o parágrafo seguinte, o leitor NÃO deve reiniciar a leitura a partir do primeiro parágrafo. Favor continuar a leitura DE ONDE ESTÁ. É importante que haja MOMENTUM até a frase - "ao amanhecer, o sucessor ..."





19.10.06

O mantra de hoje

As coisas que eu enxergo
São sinais
Coincidências
Ou um pouco mais de miopia?

A sequência de eventos
é essa mesmo?
Ou vejo nela somente o que me importa?

O nome do personagem
O casal no bar
Um amigo que liga
Você no computador

Todo dia,
o mantra da realidade
O que eu quero é meu
O que eu quero é meu

O que eu quero mesmo?
E sem querer, já é meu.
Tem um ano meu mantra
E tanto dele eu já vivi!

Me lembrem de postar um fato de hoje daqui um ano.

18.10.06

Deitada e de pé

Eu tive um sonho bom.
Daqueles que eu não me lembro ao acordar,
Mas fica aquela sensação, uma leveza, um descanso na cabeça.

O colchão novo já é meu.
E a janela em breve terá cortinas escuras.

Acostumei rápido com o barulho do silêncio.

E os banhos quentes são melhores que eu pensava!

Aos poucos vejo que fico de pé.
Sozinha mesmo.
E depende só de mim
Estar de pé e achar isso bom.

17.10.06

É ...

O tempo escorre.
Quando posso, não durmo.
E se quero, não alcanço.

Na dúvida, tenho fé.
Mas por amor, já desisti.

O céu cinza de chuva
Lindo de morrer

A casa nova de vida
A velha vida de sempre

Quando eu mantro,
Acontece
E se demora
Entristece

Me deu um medo enorme de
Morrer sozinha na casa vazia

...

Do pouco tempo que tenho
Eu penso no muito tempo que sobra
Pra ficar sozinha
E querendo estar com

Nada anda
Nada rola
Nada pra amanhã

O que eu quero mesmo

É chegar em casa cedo
E ter alguém pra me beijar

É deitar na cama tarde
Com conversas na madrugada

Escolher ficar sozinha
E ter a surpresa dele ligar

O que eu quero mesmo
é quem eu quero
Que me quer
De um outro jeito
Sem ligar
Sem beijar
Sem conversar

Tá certo, não há supresas
Mas deve sempre ser decepção?

15.10.06

Dois elefantes no fundo do mar

Passava das 3:30h e eu estava com sono.
Me despedi, paguei minha conta e voltei andando rápido para o carro.
Estacionei longe, estava sozinha, alerta geral.
Ando sempre no meio da rua, e não na calçada. É que a rua tem mais luz, os carros passam, se algo me acontecer, pelo menos mais gente vai testemunhar.
Enfim, coisas de mulher nas madrugadas.

Pertinho do meu carro, um Audi A4 preto diminui e um homem me faz uma pergunta.
Não ouvi, mas deduzi que ele queria minha vaga. Desacelerei o passo.
- Você saiu do Buccanero?
- Não. Ri - pensei - o figura não sabe nem a cara da mulher que ele tava dando em cima dentro do bar...Ô, fim de mundo.
- Ah, você não tava no Buccanero?
- Não, eu tava no Gate´s. - Ri de novo - agora pensando que ele tava me criticando - e daí se eu tava no Gate´s que é cafona e não no Buccanero que é moderninho? - segui pro meu carro.
- Annn, e agora você vai para algum lugar?
- Vou sim, pra casa dormir. E você? - com aquele tom irônico de dispensada geral que eu sou mestra.
- Não sei!
Caí na gargalhada. Ele tava ali, no meio da rua, dando em cima de mim? Ô, gente.

Entrei no carro, dei partida, ré, faróis, cinto de segurança.
O Audi parado um pouco à frente.
Foi o tempo de reconsiderar.

Sabe quando alguém se aproximou de mim, assim? Nunca.
Ele não tava com cara de bêbado. E nem era um monstro horrível.

Poderia ter sido mais simpática, mais aberta, mais - ... - cara, como eu penso!
Parelelos para entrar na L2 (mas eu poderia ter dado ré e voltado pela rua do Gate´s) - abaixei o vidro do passageiro.
- Vamos tomar um café?
Parou tudo.
Ele falou as palavras mágicas.
VAMOS
e
CAFÉ
- Não tem nada aberto a esse hora.
- Já foi no Mac Café? É bem aqui.
- Vamos.
- Você não vai fugir, né?
- Não sou de fugir de café.
Ele pagou. Saiu para ir ao banheiro e deixou no balcão a carteira, o celular, a chave do Audi.
Ele pediu um Capuccino.
Ele é jornalista, maratonista, tem uma filha de sete anos.
É a cara de um antigo amigo, só que mais feio. Tem um problema de dicção que me distraía. Perguntou de mim o suficiente para falar dele.
Me levou até o carro.
Me deu um beijo de leve, suave, na boca.
Ri.
Me beijou de novo.
Ri de novo.
- Por que tá rindo?
- Porque é engraçado isso.
Me deu um beijo mais intenso, mas aí eu já tinha estragado tudo.
Caí na gargalhada.
Ele sorriu.
- Se cuida.
- Você também.


14.10.06

Mudada

Eu vou me perfumar.
Escolher a roupa a ser tirada devagar.

Prender os cabelos e deixar a nuca à mostra.

Vou usar saltos finos,
Pés à mostra nas tirinhas pretas

Vou chegar pontualmente atrasada
Um pouco afobada
A ansiedade, expectativa, o riso nervoso
Falando um pouco alto demais,
Rápido, atrapalhando palavras

Eu quero e tenho medo
E sei que não terá volta
Preciso de explicações
Mas também, de que tudo seja rápido,
Silencioso
Macio
Leve

Não quero me embriagar
Agora, a sobriedade é muito importante
Porque a lembrança de cada minuto é essencial
Ando rápido
E páro para me arrumar na frente da entrada.
Coloco a chave na porta.
Giro, giro, forço a maçaneta.

Com as mãos cheias de mala, sacola, caixa
Entro Cheguei.
Na minha casa.

Errei? Ou Acertei? E que diferença faz?

Eu me antecipo onde deveria andar devagar.
Sou lenta para as coisas que têm que acelerar.

A minha antena está quebrada?
Ou não sei fazer o malabarismo com tantas bolas?

Estou cansada.
Andar só, e sempre no meio de um caminho e de outro
Demanda algo que tenho pouco.
Um quê de blasé

A minha intensidade
Me impede de ver um palmo na frente do meu nariz.
E então fico apalpando
O mundo todo.
Não repouso
Quieta
Esperando o tato do outro

Então me arrependo
Me acho burra
Me coloco no calabouço
Me dou tantos castigos!

Estou cansada
Das punições eternas
De nunca saber ser
Fazer errado procurando o certo

Me desculpar por ser assim desse jeito
Não tem um ser nesse mundo, perfeito
E ainda assim, passo todos os segundos da minha vida
Brigando para acertar
Castigando por errar

E nunca nunca
Esperando alguém me amar.

Esse jeito que eu sou
Sem quê de blasé
Um tanto enorme de intenso
Que cega,
Que arde
Que mete medo
E nunca nunca
Esquecendo de esperar o amor.



13.10.06

Dália Negra

A maior parte das pessoas vai ao cinema porque é bom criar uma certa expectativa sobre a história (que a própria fita promete nos primeiros minutos) e vê-la discorrer de frente aos olhos.

Eu acho que é um pouco porque na vida tanta coisa não vai do jeito que a gente quer, que a gente acaba indo ao cinema para confirmar - isso mesmo que eu queria que acontecesse! Ah, ainda bem que tudo acabou bem! - e sair de lá satisfeita, aliviada, pronta para mais uma série de frustrações, desencontros, mal entendidos.

Bem, eu fui ao cinema hoje à noite para me livrar da chateação de não ter rédeas da minha vida.
Escolhi Dália Negra porque era um policial, ação, fácil de comprar a briga do bem contra o mal, enfim. E era Brian de Palma.

Pô, não foi nada disso!
Os primeiros minutos te vendem os caras errados!
A história não é sobre a amizade dos tiras? Nem sobre o triângulo amoroso? Ah, tá, sobre um crime? Mas, qual deles?
Você passa a maior parte do filme tentando entender praonde o diretor está te levando!!! Ah, é pancadaria? Ué! Elas são ou não são lésbicas, afinal?
Vai ver que é por isso que tem tanto off e flashback nos últimos dez minutos de filme - pra te contar a história que você acabou de ver! - aliás, nunca demorou tanto pra chegar o fim de um filme!

Saí do cinema assim - ufa, ainda bem que eu tenho minha vida! Onde tudo que penso e interpreto acontece na hora errada. Mas pelo menos, não tem narração em off pra me explicar o dia no fim do dia!

11.10.06

Chuva

Eu hoje vivo o amanhã
E fujo de tudo que o agora me dá

Eu cansei de ser ação
E olho parada o que a vida me dá

Eu ontem morri de paixão
E corro sozinha de um futuro que a ida me dá

Eu agora
E penso perdida

Me dá?

10.10.06

Tristeza com café

Eu acordei triste hoje.
E o chato de ficar triste, além da tristeza em si, é que tem que se fazer mil outras coisas.

Não dá pra ficar triste e trabalhar, ficar na fila do banco, cumprimentar o vizinho
sem querer com toda força falar antes de tudo - eu acordei triste hoje - e chorar um pouquinho.

Só que não é assim que se faz.
Então, ficar triste sem poder ser triste é ruim em dobro.

Além da vontade de chorar grudada na garganta,
Ainda tem que fingir o cisco no olho pro marejado d´água

Fora o aperto no peito por dentro,
Colocar sutiã, roupa, sapato, pentear o cabelo,
E sair de casa pra trabalhar, produzir, render, terminar o projeto, entregar.

O estômago pequeno, encolhido
Fecha a calça, engole a comida,
Anda na chuva.
Mas sem chorar.

Eu acordei triste hoje.
E hoje vai demorar a passar.
porque ao invés de ser triste,
tenho que ser todas as outras coisas.
Filha, amiga, profissional...
Triste, não. Triste não pode.

Tomo um gole quente de café forte e vou trabalhar.

Ah, é você ...

A inquietação de te ver, passa logo quando você me olha.
As tantas coisas para falar, são silêncio para não atrapalhar.

E tudo que penso
preciso da sua opinião
E quando sinto
quero estar perto
e mil vezes tentar de novo

Por os dois pés no chão
e ter certeza que não tem passo pra trás.

E se o futuro não chega nunca com você
Que seja esse presente o melhor para ter!

Eu já amava você muito antes
pelo nome
Um amor descomedido de primeira
E descuidado de então

Eu me apaixonei por você em todas as outras pessoas
E quando aqui, do seu lado
Nem apavora
Nem nada

É só isso mesmo
Agora, agora, agora.


7.10.06

Chá

O burburinho de casa cheia.
O cheiro do vinho, do pão.
Os beijos, abraços, carinhos, risinhos.
Conversas que não terminam.
Atenção que não acaba!

O apartamento que virou casa.
A casa que virou minha.

Nossa, minha...
Nossa, nossa...

5.10.06

Voando

O besouro não nasceu pra voar, mas voa.
O pato não voa, mas tem asa.

Na próxima vida, quero ser besouro - acoplado com asas e patas, pra cair no meio do sanduiche do piquenique!
E deixar de ser a pata - que tem asa mas voa mal, que tem patas mas anda feio.

4.10.06

Carta

Juro que não é preguiça, mas quando escrevi essa carta para uma amiga, saquei que era para mim mesma...

Ligar o foda-se faz bem - pra tudo - e ficar triste com isso também faz bem - tomar um chá de sumiço, ficar na sua, chorar, tomar um porre ... esse movimento intrsopecção é bom pra sair mais rápido e do outro lado do túnel.

Não tem corta caminho - é do tamanho que tem que ser...

O seu silêncio será mais intenso que as mil palavras que tem a dizer.
Quanto mais os dias passam, mais eu acho que essa é a melhor solução
- se não há o que fazer, não faça nada. E fazer nada é uma merda porque a gente quer tomar conta do mundo e da nossa vida ... mas tem horas que tomar conta do mundo é só isso mesmo - não fazer nada. Ficar só olhando...

Eu quero ser reação e não ação, saca?
Amiga, na semana que vem, teremos minha casinha para alojar o nosso sumiço do planeta e todas essas elocubrações! Vai ser ótimo!

Eu tenho certeza que tudo será diferente, e ao mesmo tempo igual no ano que vem...

3.10.06

Previsão do futuro - viver no presente.

Em fevereiro, a previsão foi - "ele ainda vai te procurar. Mas você vai conhecer um homem que já está na sua vida!"

Em maio, a amiga disse - "em três meses na sua casa nova, você vai conhecer o homem da sua vida!"

Em agosto, uma das bruxas da família - "esqueça do passado. Tem um homem que já está na sua vida e você ainda não conheceu"

Agora estamos em outubro.
Não, não conheci nenhum homem que já estava na minha vida. OU conheci?
Não, não esqueci o passado. OU fiz dele um novo presente?
Não, não faz três meses que moro na minha casa nova. Mas, sinceramente? E daí?

As pessoas fazem estas previsões porque eu tenho uma cara péssima de tia velha?
Ou têm pena de mim porque minha vida de solteira é miserável?
Acham mesmo que não há possibilidade de ser feliz assim, do jeito que estou?

E que minha vida seria transformada numa passe de mágica com a chegada de um grande amor?
Recadinho para todos os magos, bruxos, amigos e parentes:
Obrigada. Sério.
Mas, eu não acredito mais nisso.
Nem no grande amor, nem nas cartas de tarô.

Eu sou sempre apaixonada. E quando sou correspondida, claro, é muito melhor.
Quando dura mais tempo então, é ótimo.
Todos os homens da minha vida foram grandes amores. E um dia, eles deixaram de ser (ou eu deixei de ser para eles).


Eu não sou pior porque sou solteira.
Nem me sinto incompleta porque estou sozinha.
Não esqueci do inferno que pode ser a vida a dois.
E adoro de verdade, ficar sozinha lendo um livro sem dar satisfação do que farei depois.

Não me entendam mal - eu nasci para ser par.
Mas me entendam de um vez por todas - eu sou única. E só.

2.10.06

Ops, errei de novo

Eu não vou mais me cobrar por fazer errado.
Nem me antecipar em reações dos outros
Que mal me conhecem

Eu vou deixar de me odiar porque o telefone não tocou
E de agora em diante,
Tenho a certeza de que o melhor é sempre o que acabou de acontecer

Eu não vou me medir pelas ações do passado
Não as minhas, não as de outrem

Vou seguir sendo eu mesma
Errando mesmo
E as falhas não serão medidas de quem sou

A partir de hoje,
Tudo bem eu errar
Muito, com gente, com coisa, comigo

Os meus erros não são parte de mim
Eles serão errantes
Que passaram, enfim!



1.10.06

And by the way...

Eu fiquei super comportada a semana toda, inclusive o final de semana inteiro (e já são 22h! do domingo de eleição!)

Não exatamente porque é melhor pra minha carne...
Mas talvez, pro meu espírito.

E quando esses dois - a carne e o espírito - estão em contradição, começo a escolher sempre o lado mais fraco - do espírito. Que é geralmente, o lado que sofre mais longamente depois.

Porque como sabemos, o corpo: lavou, tá novo!
E o espírito, bem - quanto mais se lava, mais desbotado fica...
E eu não quero de jeito nenhum um corpinho limpinho num espírito desbotado!

Eleição

A merda de se andar pra frente e rápido, e ter que parar para esperar o resto do mundo.

Segundo turno.

Puta merda, Geraldo não dá!

Um passo para frente, dois para trás.

29.9.06

Pirlim-pim-pim !

Com o pó do pirlim-pim-pim,
Sumo desse mundo que estou.

E caio na cidade fantástica

Lá, meu apartamento já está pronto, tem até plantinhas
Todos os peixes do meu aquário, pulam, chamam, ligam
Só pra mim

A ilha de edição é no meu escritório
E quem assina a montagem de todos os longas sou eu!

Minhas roupas estão novas
Mas confortáveis
Eu nunca mais engordei
Mesmo comendo todas as sobremesas de chocolate!

Tenho todo o tempo do mundo para ler tudo que acumulei nas estantes
E ver pilhas de DVDs sem sair de casa nem para comer
Porque vou pedir sushi, chinesa, e até pizza!

Ah, claro!
Eu vou trabalhar somente com os projetos legais
E ainda assim, vai sobrar dinheiro
Para viajar
Para viajar
Para viajar!

E de todo lugar que eu voltar
De Istambul à Tóquio
Vou trazer uma souvenir
Para as tantas prateleiras enfeitadas

E minha casa vai estar cheia de saudades de mim
Cheia de flores
Cheia de dengos

E eu vou poder dormir no mais absoluto silêncio
Todas as noites da minha vida
Ou ficar acordada
Em todas as farras merecidas

E tomar os banhos mais demorados
A luz de velas
Com o som super alto

Os caras me amam
Meus amigos me amam
Até eu me amo!

E antes do efeito acabar,
Agarro rapidamente e escondo na palma da mão
Todos os desejos
Todos os sonhos
As pequenas vontadinhas

E trago para cá
De onde ainda não saí.

28.9.06

Sonho

Hoje eu fui lá na obra bem cedo.
O pessoal do espelho e das prateleiras foi instalar o resto que faltava.

Eu tava cansada, meio chatinha...sentei em cima da pia e dei uma cochilada...
E sonhei.
Que estava ali mesmo, na minha casa.

Cozinhando , ouvindo música, de camiseta e calcinha...
Todos os detalhes tão reais!

Acordei sorrindo.
Logo, logo, não será preciso acordar!

27.9.06

Surpresa

Eu me surpreendo sempre
com a ignorância de uns

E a tenacidade de outros.

Como uns me subestimam
Outros me ignoram
E outros me temem!

Como de um lado sou domada
E do outro, sou feroz leoa

E no final
Aqui, bem no fim

Eu sempre soube
Que era isso mesmo que seria de mim!

25.9.06

Montagem


Para mim, a questão da montagem é basicamente intuitiva.

A minha formação em dança e música influenciam tudo que faço na ilha de edição.

O ritmo das coisas do mundo são montadas na minha cabeça. E levo tudo para a ponta dos dedos; para a pupila, pros lábios tensos pelo resultado PERFEITO.

E por tudo isso, sinto uma necessidade imensa de desconstruir.
O ritmo, o som, as cores.

Tenho vontade de desmontar o mundo real e remontar todo de novo, fora do ritmo, do meu ritmo
– de bailarina, de pianista, de mulher.

Eu quero transgredir tudo – pelo simples prazer de fazê-lo.
Não interessa o resultado, e não faço questão de justificar.

Mas, se fosse para inventar uma boa desculpa, aí vai -
A função de cada ser humano deve ser a de incomodar o outro, tirar as coisas das suas respectivas caixinhas.

Eu falo de sensação, de sentimento. Eu falo de chatear, aborrecer, irritar.
Com a montagem, com a imagem, com a surpresa de um gesto onde não haveria tal possibilidade!

Admirar o que existe, mas com o olhar sempre questionador.
Questionar com o intuito de ser eternamente curioso, inquieto.
Provocar o outro.
Me sinto instigada a traçar um caminho torto, finalmente.
E com isso também vem um desejo crescente de anarquizar!

Eu quero montar o que não tem montagem.
Eu quero editar um monólogo de silêncio.







Vidar real imaginária

Um final de semana de trabalho intenso e frustrante.
Um projeto que não tem fim, me exaure todas as forças!
Então, por que estou tão bem humorada, engraçada, saltitante?

Porque meu amigo, é bom estar na minha pele.
É bom estar chateada com a ilha que não funciona.
É ótimo sentir a tensão no olhar de um alguém que me vê sem poder resistir.
E melhor que tudo, patinar com música ensurdecedora e esquecer de tudo isso quando o vento bate nas bochechas.

A minha presença física é hoje o reflexo real da minha alma no mundo.

Que alívio ter um corpo que tantas vezes é mais sábio que minha cabeça!
E que delírio é ter uma cabeça cheia, mas pronta para estar vazia quando a alma pede.

Eu tenho o poder de achar que posso tudo que quero.
E dos tantos quereres
Todos eles
Se realizam
Um a um
Dia após dia

Na vida real real
Ou na vida real da minha imaginação.

24.9.06

Escrever para lembrar

O sinal de que estou cansada é esquecer objetos - para uma virginiana, isso é fatal.
Saí da TV ontem e não me lembrava de jeito nenhum onde estacionei o carro.
Na rampa? No anexo? Fui andando devagar para retomar minha chegada no início da tarde.
EU SIMPLESMENTE NÃO TINHA ISSO REGISTRADO!
Me deu um início de pânico.
Pela manhã, esqueci a chave da obra em casa, a chave do carro na obra, o celular em cima da cama.
Esqueci de pagar a terapia. Paguei o celular atrasado.

Estou exausta de olhar para telas de computador, e aqui estou eu, sábado à noite, com areia nos olhos, escrevendo compulsivamente.

Se eu estivesse com meu Ipod, patinava antes de ir trabalhar amanhã.
Mais um domingo sem sol para mim.

Dois jantares consecutivos de cachorro quente - tem algo de bom aí!

Eu de verdade, tenho tudo que eu quero ao alcance das mãos. Mas todos os tudos estão virados para outros lados...é preciso um cutucão no ombro...e isso cansa, cansa.

Vou dormir e sonhar sonhos sem imagens, sem sons.
Seria um alívio apagar o cineminha que funciona na minha cabeça?

22.9.06

Eu vou me assassinar

Tem um eu velho correndo atrás de mim!
Tá viva! Socorro!
Quer me encaixar na culpa católica
No cumprimento correto das tarefas impostas

Na antecipação certeira do futuro distante
Nas reações pré-concebidas das atitudes de todos os seres

E da punição,
Da inquisição,
Das inúmeras chibatadas
por todos os erros e os pequenos acertos que estavam fora do previsto

E minimiza tudo que é bom
Ironiza os caminhos tortos
Ri da vontade de celebrar
O espelho
O sorriso
O desejo

Eu vou comprar um veneno no mercado
E matar essa euzinha velha
Devagarinho, sufocada
Na falta de ar
Na falta de assunto
Na simples ausência
Com a maior indiferença
Que eu - porra louca de fato e de direito
Consigo ser!

21.9.06

O crepe sem sal

Eu sei exatamente o que não quero. Mas só lembro quando está ali, olhando pra mim do outro lado do meu crepe de funghi.
Acho difícil ser direta - imagine! - e vou aos poucos me acostumando com o desconforto quando de repente
Nossa! O que estou fazendo aqui?
Resumo a conversa, vou embora.

Eu quero ser querida.
Mas é dureza perceber que o outro simplesmente me atropela.
Passa por cima, simply doesn´t get me!

Se sou rápida demais, perspicaz demais, antenada demais - desculpem...
Só que eu me acho única demais, ímpar demais, esquisita demais -
para simplesmente entrar na caixinha de outrem!

Como diz um querido que tenho
Eu não entro na loucura dos outros, não!

20.9.06

Tampa do vidro

Eu vou sair dos meus pais para minha casa definitiva já já.
É engraçado pensar assim porque morei oito anos fora e quando voltei para Brasília, imaginei morar com eles por poucos meses. Isso tem três anos.

Dessa vez, saio de casa pra valer. Mais para eles que pra mim.
De qualquer forma, sinto uma energia enorme concentrada nessa parte da minha vida.
O trabalho, os amigos, tudo parece meio fora de foco, como se eu estivesse colocando muita força pra abrir a tampa do vidro - quando na verdade, é só um jeitinho mesmo.

É que o foco está mesmo nessa mudança -
será que vou ter grana pra me bancar?
não é uma loucura me comprometer por vinte anos a pagar uma prestação?
e se eu não conseguir?
como vai ser a rotina de viver sozinha no Brasil?
o que vai ter na geladeira?

Estou tão feliz que nem percebo.
Tão admirada com o que consegui, que nem mereço.
Estou com um medo do tamanho da minha conquista.

Dessa vez, saio de casa para ser o que sou.
E se eu não for ninguém?

19.9.06

Sei lá...

Eu ando com uma preguiça enorme de escrever aqui.
De pensar, de falar.
Distraída, desconcentrada...aérea.
Cansada das mesmas conversinhas,
Das velhas novidades.

Eu preciso de um tempo para aprender tanta coisa
Mas já sei que nunca vou saber de tudo!

Tenho três livros começados,
Tem a obra que já já acaba
Tem os amigos que não vejo
O volume de trabalho que só aumenta

As coisas nunca foram tão diferentes aqui dentro
No entanto, lá fora, o mundo gira igual igual...

18.9.06

Levei um fora. Mais um.

Quando me calo, me entristeço.
Mas, se falo, afasto quem tanto quero por perto.
Qual será a medida em mim
Para ser quem sou sem assustar ninguém?

Búuuu...

16.9.06

Sem brincadeira nenhuma.
Eu sou uma perfeita idiota.
Burra mesmo. Sem noção.

Ah!
Quero férias de mim!

12.9.06

11 de setembro de 2002

O telefone da ilha de edição é para mim.
Do outro lado, o Ethan me explica que quer aproveitar a distância para terminar o namoro.
Cinco anos.
Se não fosse assim, ele não teria coragem e poderia se arrepender.
Eu não sou divertida o suficiente,
Quero coisas que ele não quer.
Muita pressão essa coisa de estar junto por tanto tempo.
Me ama, mas quer ficar sozinho.
Melhor assim.
Depois ele me manda minhas coisas, que estão na nossa casa.
Minha vida guardada nas gavetas.
O pó dos livros nas estantes, a pilha de CDs no chão.

Na sala cheia de gente, desligo olhando o vazio.
Vazio.
Fundo.
Sem cor.
Vazio.

Ainda bem que eu te amei, Ethan. Você inventou em mim a elasticidade do amor. Por isso, cabe no meu coração pra sempre.

11.9.06

15 de setembro de 2001

Quando a luz dos balcões começaram a acender, fiquei de pé. Eu precisava urgente fazer xixi. Levantei depressa, senti a tontura dos tantos dias sem comer. O homem japonês guardou meu lugar. Na volta do banheiro, a multidão se aglomerava nas correntinhas ao redor dos guichês. Pus minha mochila nas costas. Minhas pernas tremiam. Os militares armados nos forçavam para trás. Eram seis guichês, uns doze atendentes. A fila se desmembrou sem ordem. Cheguei no guichê quatro.
- Preciso ir para o Brasil
- Só quem tem passagens para hoje
- A minha era para o dia 12 de setembro
- Então, lista de espera
- Esperar por qual vôo?
- Terá que aguardar nova abertura do espaço aéreo. Este será temporário.
- Não posso aguardar. Minha mãe está na mesa de cirurgia nesse exato momento. - A voz sumiu. Engoli duas vezes. Os americanos não gostam de drama.
Um outro atendente
- A lista de espera está encerrada
- Eu não posso entrar em lista de espera nenhuma senhor. O que pode fazer por mim?
- Nada.
- Eu não vou sair da sua frente enquanto não me der uma solução.
- Um momento.
- Pronto. Aqui está sua passagem. Embarque imediato. Boa viagem.
Assim. Desse jeito. Olhei ao redor. Não encontrei o homem japonês. Nem a paulista do orelhão.
Liguei a cobrar para o Brasil. Chego em São Paulo ainda hoje. Eu sei. Eu sei. Eu sei. Um beijo.
O vôo mais longo do planeta.
O homem mais americano e chato do universo.
A melhor melhor melhor aterrisagem do espaço sideral.

Senti meu coração. Parei de sentir minhas pernas. Eu flutuei até o desembarque. Caí no chão e beijei o piso preto sujo, encardido, imundo do aeroporto internacional de Gaurulhos, São Paulo.
Meu tio Jorge, me abraçou.
- A sua mãe saiu da cirurgia e está na UTI. Correu tudo bem.
- Eu derramei cinco dias de lágrimas sem sal, sem água, sem cor.
O cheiro do café forte.
O pão de queijo do quiosque.
O delicioso som do português em todas as bocas que eu olhava.

Eu nunca mais saio do Brasil.

14 de setembro de 2001

Dormi muito.
O céu ainda cinza.
O cheiro mais forte.

Tomei um banho.
Comi uma banana e vomitei.
Bebi um chá morno e fraco.
Não sentia a dor de cabeça, as mãos trêmulas eram desde ontem

A CNN afirmava que o espaço aéreo estava fechado.
A ABC confirmava a abertura do espaço aéreo para aeronaves domésticas.
Liguei para o Gaudêncio. Vou para o aeroporto. O espaço aéreo está aberto.
- É só para aernoaves em trânsito. Aquelas que foram forçadas a aterrisar.
- Eu sei. Mas eu vou para o JFK. A chave vai ficar debaixo do tapete. Te ligo do Brasil. Um beijo.

Demorei muito para pegar um taxi. Nenhum motorista queria me levar ao aeroporto, fora da cidade. Todos gritavam que estava tudo fechado.
O dia estava fechado. Começou a chover. Eu não queria chorar.

Um jovem jamaicano me levou até a entrada do aeroporto discutindo comigo a viagem toda. Me deixou debaixo da placa JFK - e peguei o micro ônibus que circula dentro daquela mini cidade de companhias aéreas. As grandes, todas fechadas. Em cada parada, descia, pedia informações. Meus pés doíam do frio. A chuva era mais intensa. Eu não sentia sede.
No balcão da Varig, a passagem de primeira classe tinha fila de espera. O vôo sairia no dia seguinte. Todos dispostos a esperar. A minha mãe vai morrer e eu vou estar na fila de espera da Varig.
Peguei o ônibus e fui ao guichê da JetBlue. Entrei na fila. Na minha vez:
- Por favor, vocês estão voando hoje?
- Sim, senhora
- Para Miami?
- Para Fort Lauderdale
- Hoje?
- Sim
- Mas o próximo vôo está lotado
- Não senhora. Ele sai em 30 minutos
- Eu quero uma passagem

Liguei a cobrar para o Brasil. Estou embarcando para Fort Lauderdale. De lá pego um carro alugado para Miami e vejo o que acontece.
Ao meu redor, como eu, as pessoas estavam super bem.
Aluguei o único carro disponível no aeroporto da capital da Flórida - uma limosine preta extra luxo de seis portas. E contei pro motorista que saí de Nova York para estar na cirurgia da minha mãe no Brasil. Ele voou para Miami.
O aeroporto de Miami estava em guerra.
Pelotões do exército andavam em duplas portando sub metralhadoras.
Não havia o que comer. Refrigerantes, só morno. Ou água dos bebedouros.
As filas gigantes eram para o primeiro vôo do dia seguinte - o destino - São Paulo, Brazil.
Um homem de Tóquio que tentou chegar até Montreal. Uma família de Miami que voltava para La Paz para sempre. Eu.
Liguei a cobrar para o Brasil. Estou na fila de espera. Fique calma, mamãe, não estou mais na linha de fogo. Quando abrir os olhos aí, estarei do seu lado. Minha única lágrima foi enxugada com um lencinho brasileiro, da moça paulista na fila do orelhão.
A noite no chão passou tranquila. Quase todos dormiam. Eu mudei de posição. Dei a volta e inventei uma outra fila, para um outro guichê. Eu tenho certeza que amanhã cedo, quando abrirem os balcões, mais de uma fila será atendida. O homem japonês me seguiu.

Se a minha morresse amanhã cedo, na mesa de cirurgia, tenho certeza - seria um sonho ruim. Então, decidi simplesmente não dormir.

13 de setembro de 2001

Não sei se dormi.
Abri os olhos com o barulho ensurdecedor de aviões rasantes.
O céu muito nublado. Inacreditável. Será que vai nevar?

Os telefones estavam funcionando, a internet também.
As pontes da cidade estavam abertas. O trânsito estava normal.
Falei com Ethan. E com o Brasil. Calma, fria, estava indo ao Serviço de Imigração.

Peguei o metrô até a 14th Street e a 7a. Avenida. Dali, os trens não saiam mais.
Estava em frente a um hospital - uma fila imensa na porta. Doadores de sangue.

Peguei o primeiro ônibus que passou. Lotado. De bombeiros. Um silêncio absoluto.
O ônibus parou na Varick St. com a Houston St. Dali, ninguém mais passava. Só os bombeiros.
Era longe para caminhar até o Serviço de Imigração.
O que eram aqueles caminhões frigoríficos em fila?
Caía do céu uma cinza fina, como de cigarros. Mas bem mais fina.
Um cheiro de incêndio.

Um policial de pé na esquina da Broadway me avisou:
- Não pode passar
- Senhor, eu tinha uma entrevista marcada no Serviço de Imigração. Viajo ainda hoje para o Brasil. Minha mãe está doente.
- Sinto muito, entendo o que quer dizer, mas não há aviões, não há expediente no Serviço de Imigração.
- Eu sei, mas eu tenho que estar no Brasil até amanhã. Meu vôo sai hoje à noite do JFK.
- Não senhora, o seu vôo não terá permissão para sair. Eu sinto muito.
- Tá bom, mas eu preciso ir até o Serviço de Imigração para perguntar o que posso fazer para viajar sem a autorização devida.
- Senhora, sinto muito, a senhora não tem como viajar porque o espaço aéreo do país está fechado. Não há vôos. O Serviço de Imigração está fechado por medidas de segurança nacional
- O senhor acha que eu vou poder chegar até o Serviço de Imigração?
- Não senhora, está tudo fechado.
- O senhor sabe quando eles vão abrir o espaço aéreo?
- Não senhora. - ele tentou sorrir.
Eu não consegui chorar.

Voltei a pé até a Times Square. Sessenta quadras.
O vento cinza, a cidade cinza, o barulho insuportável das sirenes de bombeiros.

Eu precisava falar com o Serviço de Imigração. Parei em inúmeros orelhões. Todos quebrados.
Uma lufada de vento mais forte bateu no meu rosto. Estava sem chapéu, sem luvas, sem cachecol.
E veio o cheiro.
O cheiro de cabelo que queima. Como quando eu era criança e o fósforo queimou meus cílios.
O cheiro de gente, de pele. O cheiro de bicho. Como quando pulava na piscina e a pele quente de sol esfriava rápido.

Meu estômago virou. Era fome, era sede, era o cheiro?
Minhas pernas estremeceram. Minhas entranhas doíam.

No apartamento, arrumei uma mochila.
Separei todos os papéis de imigração e o passaporte.
Dinheiro em cash.
Mandei um email para o Ethan.
Liguei para o Gaudêncio. Venha para cá. Eu vou viajar para o Brasil.
Liguei para o Brasil. Com meu irmão do outro lado, pensei na estratégia mais inteligente possível. Alugar um carro e atravessar o país até o México.
Liguei para todas as locadoras da região. Nenhum carro disponível.
Liguei para a primeira na Filadélfia, a duas horas de trem de Nova York. Reservei um Toyota simples no meu nome para o dia seguinte de manhã. Milhagem livre, tanque cheio. Para devolução em Austin, Texas.
Sentei e esperei.
O Gaudêncio chegou, sentou e esperou. E foi embora.
Desliguei a TV.
O cheiro em todo lugar.
As sirenes em todo lugar.
Aviões rasantes sumiam e apareciam.

A cama ficou pequena, o frio eu nem sentia.
Os riscos da rua no teto tomaram outras formas.
Fiz tudo que quis, sempre. Não me arrependo de nada até aqui.
A roupa lavada, comida na geladeira, as contas do mês pagas.
Um amor vivido, dois países queridos, tantas pessoas inesquecíveis...

Fechei os olhos sorrindo.
É. Seria um bom momento de morrer.