31.12.09

Último

Se a vida é um caminho com inúmeras bifurcações a serem escolhidas, 2009 foi o resumo dessa metáfora.

A cada mês do ano que passou, me deparei com escolhas a fazer - ou por aqui, ou por ali.
Agora, no último mês, no último post, me alegro de ter a certeza de sempre ter feito a melhor escolha. Sim, porque a melhor é sempre aquela que fazemos e ponto final!

Viajei para os lugares certos, na hora certa; conheci pessoas boas e más e escolhi me aproximar (ou me afastar) de ambas, também no momento certo; fiz uma escolha radical na profissão, que ainda não me trouxe frutos, mas nem por isso foi a decisão errada.
Amei e desamei. Engordei e emagreci.
Em especial, realizei o sonho de viajar para Istambul!
Minha sobrinha Sofia nasceu.
Meu avô morreu.

Meus amigos sobreviveram a todas as minhas intempéries. O mesmo para meu corpo.
Meu dinheiro diminuiu no bolso e aprendi muitas lições com isso. (em especial o fato de que não é legal ficar sem dormir por causa de dinheiro)

Meu amor aumentou por mim mesma. E em consequência, fiquei mais paciente para aprender a amar o próximo.

Este será o último post de 2009, que foi confuso, rápido, atribulado e emocionante.
O fim da década, o começo de muitos novos sonhos e desejos.
Há dez anos não passava a virada na minha cidade, Brasília.
Cá estou.

Uma forte sensação de fechar um ciclo, iniciar novos projetos - reforçar velhos objetivos - inventar novas estratégias.
Não tenho resoluções para 2010.
Espero somente ter a chance de escolher o melhor caminho, sempre.
E sei, essa chance eu sempre tive, e sempre terei.
Afinal, o melhor caminho é aquele que escolho.
Ops, outra encruzilhada - escolho esta, com o pé direito e o coração cheio de amor.
Feliz 2010!
Tin-tin!

28.12.09

Sozinha

Madrugada.

A casa vazia e mal arrumada.
Chuva e silêncio.

A visita deixou a sala vazia.
A festa, a cozinha desordenada.

Uma luz só acesa.
Minha casa, meu vazio.

Olho a quina da parede.
A Lucrécia e seu berçário!
E me dá um estranho aperto no peito:
Ela se foi e deixou os seus!

Procuro a pequena aranha pelos cantos, sem sucesso.
Os filhotes agora estão mais dispersos, o teto com pontinhos pretos.
Em breve, acharão a janela e seguirão para mundo-jardim lá fora!

Uma súbita solidão me assolou.
As famílias se desfazem para se refazerem em novas famílias.

Deu medo de morrer sem família, sem a minha família, minhas arainhas, nascidas de mim...

24.12.09

O Presépio de Natal


Desde que me entendo por gente, minha mãe monta um presépio de Natal na entrada da casa.

A base é uma tábua de madeira serrada pelo papai.

Dois banquinhos sustentam toda a história da noite do nascimento de Jesus.

A manjedoura é de pedras de papel pintadas de guache cinza.

O caminho que leva a Jesus é de areia do parquinho da quadra.

O laguinho tropical no meio do deserto é uma criativa invenção da mamãe para abrigar o sapo, e os patinhos.

As figuras natalinas, não sei de onde vieram, mas têm um aspecto sutil de beleza e tristeza, como é mesmo essa data tão celebrada.

No presépio da minha casa, tem anjinhos cantando nas pedras, pastores, ovelhas e carneiros, além dos animais e os três Reis Magos.

O cheiro do cipreste cortado inunda a casa e se mistura com as músicas de Natal.

Para mim, preparar a noite, sempre foi mais especial que a noite em si.

Esse ano, nada mudou.

A diferença é o novo ajudante, entusiasmado com todo o processo - desde serrar a madeira a escolher o melhor lugar do laguinho de espelho para abrigar o sapinho!

Natal é festa de criança. E quando a criança é aquela que amamos do fundo do coração, celebrar o nascimento de uma outra, Jesus, faz todo sentido.

Hoje, entendi tudo: o Natal é a celebração de todos nós, que ao nascermos, trouxemos ao mundo esse sentimento de esperança e amor.

O Enzo, a Sofia, as crianças que amo me deram isso de presente: uma vontade imensa de amar muito e ser sempre uma pessoa melhor.

E o Natal, hoje, me trouxe isso também.


Feliz Natal para todos nós!





22.12.09

Árvores sem pés

Um chuva torrencial atacou a Asa Sul por volta das 3 da tarde.
O vento bateu muito forte.
Árvores caíram. Cinco, contei.
Umas, partiram no meio e tombaram em calçadas.
Outras, deixaram galhos pelas ruas.

Mas teve uma, enorme, rica em folhas, alta -
esta caiu inteira!
A raiz descolou da terra, ficou de ponta cabeça, os pés olhando pro céu!

Eu, parada no sinal de trânsito, olhando as raízes de pernas pro ar.
- Senti um alívio imenso - é tempo de ter os pés no ar, virar de ponta cabeça, perder o chão.
Em breve, tudo volta à direção certa.
Nunca é aquela que pensamos que seja. Mas é sempre a certa. E a melhor.

Que venha 2010.


18.12.09

Amor maduro

Fui a mais uma festinha ontem pensando nos amigos que encontraria ali.
São pessoas que orbitam pela minha vida, às vezes mais perto, às vezes mais longe. Alguns são muito semelhantes a mim enquanto outros tem absolutamente zero a ver comigo.

Por que tenho amigos tão diferentes uns dos outros, diferentes de mim?
Porque a coisa mais importante, temos em uníssono - respeitamos uns aos outros.
As diferenças, os preconceitos, os defeitos graves.

Meus amigos respeitam meus dramas, minhas crises de ansiedade, minhas manias e neuras.
Respeitam minha rabugice, meus sumiços.
E a recíproca é verdadeira.

Mas, além do respeito, temos a mágica capacidade de admirarmos uns aos outros! Nos defeitos e nas qualidades!
E principalmente, nas diferenças!

Não me canso de enxergar nos meus amigos, todas as qualidades que almejo ter um dia.
E até os defeitos e os erros, vejo todos com olhos apaixonados!

Sim, as pessoas são diferentes entre si! E os amigos que escolhi na minha vida não são aqueles que me mimam, me elogiam, enchem minha bola e só. Ao contrário, são seres que me questionam, instigam, perturbam minha paz e me tornam uma mulher melhor todo dia.
Só que fazem tudo isso com tanto amor e dedicação, que é difícil não pagar de volta na mesma moeda! Eu apóio, mas critico. Eu elogio, mas questiono. E amo com a medida certa aqueles que me amam com tanto coração e respeito.

E funciona assim: a vida colocou pessoas no meu caminho. Os amigos, eu escolhi. E fui escolhida por eles. Com eles, é fácil amar. Porque é um amor maduro, certo de admiração e paciência! Ah! Santa paciência pra conviver comigo...

Meus amores, meus amigos: eu sou mais feliz porque vocês existem!

(resposta ao email da Marcinha. E uma declaração aos meus amigos, já que nunca tenho o culhão de me declarar ao vivo e em cores, um defeitinho bobo e perdoável...; )

16.12.09

Ainda é tempo de surpresas em 2009

Com poucos dias restando, me resignei de persistir nos estudos e decidi resolver outras pendências.
A porta do meu armário quebrou.
O chuveirinho do chuveiro também.
A casa precisa urgente de uma mão de tinta.
E jurei pendurar os quadros e a máscara Veneziana antes de 2010 chegar.
Também quero umas prateleiras de livros, para aliviar o peso da velha e linda estante emprestada da minha mãe.
Meu astral mudou. É hora de cuidar de mim e da minha casinha.

Essa mudança de astral veio empurrada por uma série de boas novas que ouvi nos últimos dias - um amigo vai se casar com a moça que namora há 3 meses (sim, eu aposto que dará certo!); uma amiga querida soube das boas novas sobre a saúde dos olhos; sem esquecer, claro, da fofa da Japa, que tá NA-MO-RANDOOOO!
Claro, não é comigo, mas respinga em mim. Ver pessoas que amo felizes me abre um sorriso no rosto - e fica mais fácil encarar a minha própria chatice.

E daí que passo a tarde pra lá e pra cá, comprando pecinhas, escada, tinta, parafuso. Suada e com pressa, entro em casa para um rápido xixi e - Lucrécia TEVE BEBÊS!
A aranha gordinha que há dias estava quieta e imóvel no mesmo canto de sempre agora vigia uma teia salpicada de pontinhos pretos! São dezenas de arainhas! Que alegria! Tantos menininhos Jesus nascendo para minha redenção!

Minha casa é um berçário! Viva a vida da Lucrécia e seus filhos todos!

Minha boa nova é imbatível, melhor que a soma de todas as que ouvi até então!





15.12.09

Pensamentos Natalinos

Estou de mal humor. Para todo sempre até a noite de Natal.
Sério, por que tanto alvoroço?
Eu simplesmente DETESTO ser obrigada a sair para comprar presentes!
Perde-se todo o propósito da doação, TER QUE IR ao shopping e pensar em algo criativo, barato e bonito para os meus queridos!
Eu não sou boa trabalhando sob pressão.
Já até briguei com a minha mãe (claro)...

E outra - Pra que tanta confraternização?
Passei o ano todo sem encontrar essas pessoas, pra que encontrá-las justo esse mês? Estou sem dinheiro, sem tempo e sem saco. Péssima companhia... ainda mais para aqueles que foram ausentes na minha vida o ano todo e justo agora resolvem virar amigos... bem, até a virada do ano, quando tudo volta a ser igual.
Ai, e nem vou começar o blá blá blá sobre a idiotice que é o tal amigo oculto. Ainda bem que me livrei de todos esse ano. O Buda é mais!

E uma última - por que fica todo mundo super carente, vulnerável, saudosista? Me incluo nessa turma: estou chorona, melancólica, sei lá (não é TPM, meninos, eu raramente uso essa desculpa).
Já perceberam o aumento em ligações, emails e notícias de pessoas que nem moram mais no nosso planeta (sim, geralmente os exs...)!? Simplesmente, as pessoas se lembram que um dia foram felizes? Ou bate aquela crise de consciência depois de analisar o ano e ver o quanto poderíamos ter sido mais legais uns com os outros? Eu ando assim: com vontade de abraçar e pedir desculpas pra metade do planeta - todo mundo que me aturou esse ano, coitados, especialmente meus colegas na TV. Ninguém merece me engolir com caroço e tudo... A consciência pesa porque o ano tá acabando e meu tempo acabou pra ser uma garota mais legal...

Estou ranzinza. Minha pior fase. Mas, não me apego mais - vamos lá, fila de shopping, reunião de trabalho, responder mil emails, dia 25 está aí!
Já já, estou liberta.
Ufa.
Esse ano resolveu ser longo justo no último mês!




14.12.09

VIRGO [August 23–September 22] Whenever the tide goes out, the creek I live next to loses a lot of its water to the bay. From a distance, the mud looks like a wet, black desert, but if you get up close, you'll see it's covered with tiny furrows, pits, and bulges. This is evidence that many small creatures live there, although only the hungry ducks and egrets know exactly where to look to find them. Be like those birds, Virgo. As you survey your version of the mud flat, ignore anyone who tells you that it's barren. Go searching for the rich pickings.

... S E A R C H I N G ... O N E M O M E N T P L E A S E ...

11.12.09

O monge, o calango e eu

O monge Haritani toca o sino todo dia às sete da manhã. Hoje, foi só uma badalada. O silêncio estranho trouxe o grupo de yogis para fora. Ele morreu debaixo do sino grande, no jardim do Templo.
Era novo, japonês e muito engraçado.

Mas, tudo que pude fazer foi chorar com pena de mim mesma.
O que será de mim, do Templo, sem o monge Haritani?
Por que levo outra bordoada da vida, justo agora, no virar da folhinha?
Por que tanta coisa difícil, dura, triste, doída para mim?

Chorei sozinha, acendi as velas e meu incenso. Até hoje não tenho um altar budista em casa.
Toda semana me prometia ir aos aos ofícios ministrados por ele. Há tempos não vou meditar.
Culpa, irresponsabilidade, indisciplina, preguiça, falta de fé. Agora, ele morreu.

Fui me despedir do corpo na nave do Templo. Cruzei com um calango na calçada com a cor da cauda radicalmente diferente do corpo. Esse sofreu um atropelamento ou algo assim, pensei. E taí, correndo pra rua de novo, recriminei.
Mas, como o monge, o calango teima em viver com fé.
No monge, a fé era simplesmente física, palpável, medida no sorriso, no gesto suave, no ritmo certo do canto, na belíssima voz entoando o mantra.
No calango, a fé vem do equilíbrio da nova cauda, na certeza de que há melhor gramado do outro lado do asfalto. No simples fato de viver o momento, o aqui agora e ponto final.

Como todos, eu sofro as perdas e tristezas da vida. Particularmente, esse ano foi bem sofrido, em muitos sentidos. Mas como o calango, minha cauda teima em renascer, se reconfigura, de outra cor talvez, mas me dá o equilíbrio e a integridade para seguir nas calçadas da vida.
Como o monge Haritani, eu não duvido da vontade do Buda de me ver feliz. A minha fraqueza é duvidar da minha própria força, da minha própria fé em mim.
E vendo o monge, eu via o Buda.
E é isso que dói nessa despedida.
No meu egoísmo, eu só penso em como será daqui pra frente sem o monge. O calango atravessa o asfalto e se mistura na grama verde.
É fim de tarde. Vamos tocar o sino no lugar do monge Haritani.

9.12.09

FORA ARRUDA!

Leitores, não há mais o que dizer. Temos que FAZER.

Vamos às ruas protestar!

Se você não está em Brasília, pode se juntar a nós vestindo branco na quinta feira!

Agenda Brasília Limpa!

Quarta-feira (09/12) - Protesto na Praça do Buriti, a partir das 10h. - Brasília

Quinta-feira (10/12) - Movimento Brasília Limpa promove mobilização para que brasilienses e TODOS OS BRASILEIROS saiam às ruas vestidos de branco, coloquem fitas ou faixas da mesma cor em carros e janelas e andem com os faróis acesos.

Sábado (12/12) - Carreata partindo do Mané Garrincha – 9hs - Brasília

2.12.09

Até a volta!

VIRGO [August 23–September 22] In one of his short poems, John Averill describes a scene that captures the essence of your current astrological omens: "Today is the day of the photo of moonrise over Havana in a book on a shelf in the snowbound cabin." Here's a clue about what it means: The snowbound cabin is where you are right now in your life. The moonrise over Havana is where you could be early in 2010. How do you get there from here?

Well, I have no idea, but I will sure do my best for it to happen by january first! Hahahaha!

Volto em breve, leitores adoráveis!

Lucrécia e o longos dias de novembro

A aranha Lucrécia despejou os ovos na teia ontem à noite.
Agora, ela está gordinha mas perdeu um pedacinho do corpo.
Poderia dar um google em "como nascem as aranhas", mas vou observar ignorante.
É mais divertido me sentir impotente diante de algo que não tenho a menor ideia de como vai ser. Divertido no sentido do surpreendente e impotente no sentido de ser livre de qualquer ato ou situação que venha a acontecer. Sou espectadora da vida aracnídia. O melhor que posso fazer é olhar e não me envolver.

Aliás, deveria adotar esse pensamento para outras áreas da vida.
Para tudo novo, desconhecido e sem controle, deverei observar com olhos curiosos e inquietos, meio de longe, meio espectadora, meio torcedora para que, no final, tudo dê certo.

A Lucrécia está imóvel ao lado da bolotinha preta na teia. Não se mexe mais para nada. Não na minha presença pelo menos.
Tem horas que a vida é assim para todos, é o que concluí. Até as aranhas às vezes ficam assim, sem nada acontecendo na vida delas.
Mas, tanto eu quanto Lucrécia sabemos que esses momentos de marasmo e estática são como guarda-volumes de energia. Aquela que vamos ter que ter de sobra em breve, como por exemplo quando os filhotes de Lucrécia nascer. Serão muitos, famintos e pequeninos. Ela deverá suprir todas as necessidades com a energia guardada nos dias longos e parados de novembro.

Meu novembro foi corrido e cansativo. E parece agora que, como Lucrécia, entro num dezembro mais tranquilo e lento. Bom. Só pode ser um sinal para acumular energias (de preferência não em calorias! ó Buda!) para o ano que chega.
Em 2010, é provável que seja minha vez de parir crias nessa vida. Não arainhas, mas talvez, com a mesma exigência de cuidado e amor.


30.11.09

Mestres e Lições

"O Hachi (palinhos japoneses) foram inventados para imitar o bico do pássaro que come sementes.
Eles funcionam assim: um sozinho, não alimenta. Só os dois juntos. Mas ainda assim, às vezes também não dá certo. É preciso encontrar o ritmo, ter paciência, um ajudar o outro. É assim na vida a dois. Precisa se acertar o passo, esperar o outro, e então se alimentar de felicidades todos os dias". (Monge Haritani no casamento da Verônica e do Paulo)

...

"O passado é história, o futuro é mistério e o presente é uma dádiva. Por isso é chamado assim: PRESENTE". (Mestre Shifu no desenho "Kung Fu Panda")

...

"Tudo pode acontecer. Inclusive, NADA"
(Mãe da Tati)

28.11.09

A cigana, a cesta, a chefe

- Moça, pode comprar uma cesta básica pra mim?
Viro de frente, a jovem falava para minhas costas. Vestia uma camiseta cumprida até os joelhos cor de rosa. Os cabelos castanhos claros mal amarrados num rabo de cavalo. Tinha olhos de mel, a pele morena de sol. Cigana.
- Posso. Me espera no caixa que eu já estou terminando aqui.
Olhei a minha sacola de pano vazia. Só passei no mercado pra comprar umas frutas. Tinha parado na ala das Havaianas, um par por 29,70. Estava escolhendo a cor, quando a cigana falou comigo. Desisti das Havaianas. A cesta básica custa 39,50. Muito mais vantagem.

Segui para os hortifruti e de lá, direto pro caixa. Uma fila enorme. Lá vem a jovem cigana com um carrinho LOTADO de compras!
- Eu vou pagar sua cesta básica, e não sua compra do mês, tá? - Falei com o meu melhor sorriso. Ela afirmou que sim, e ficou ao meu lado na fila, com o carrinho cheio de Danoninho, biscoito recheado, refrigerantes.

- Essa mulher tá aqui todo dia, pede pra todo cliente comprar cesta básica, vai ali na esquina e vende tudo! - Uma mulher com o uniforme do mercado vem falando lá de trás (as pessoas têm esse hábito de falar com você sem olhar nos olhos? Vem falando com as minhas costas)
Agora, já ao meu lado - Se a senhora quer ajudar por que não dá o dinheiro pra uma instituição de caridade? Elas não ficam com nada disso, todo dia estão aqui! - e já foi tirando o carrinho da mão da cigana.

Olha aqui minha senhora, todas as pessoas são LIVRES. Fazem o que quiserem com presentes e compras. Eu comprei, é meu, eu faço o que eu quiser. A senhora não tem permissão para julgar minha atitude e muito menos de dizer como eu devo ou não ajudar alguém. E se a senhora acha tudo isso e está com tanta raiva assim do que esse moça faz com o que ela ganha dos clientes, a senhora pode fazer algo melhor - pense numa solução e pare de fazer parte do PROBLEMA.
(Pensei)

Olhei com meu sorriso Mona Lisa para a chefe do mercado:
- Eu vou pagar a cesta básica pra ela. Foi isso que eu combinei com ela.

A mulher na minha frente me olha com uma reprovação de diretora de escola.
A mocinha do caixa dá um sorriso de que já viu isso cem vezes hoje.
O homem da fila ao lado me dá o melhor sorriso do dia.
Sorrio de volta, pergunto as horas, bonito o relógio dele. O dono também.
Falamos de compras, comidas, receitas, calor, férias, ele pede meu número, me dá carona até em casa e combinamos um café para amanhã. (Desejei)

Em casa, abri a mochila com 5 frutas e um pacote de absorvente. Pensei se a cigana já tinha conseguido vender tudo na esquina. Tomara.







26.11.09

Hits do Blog

Como sabem, tenho um contador de visitantes aqui no blog.
O contador é um site que mede o número de pessoas, de páginas, de um monte de coisinhas legais.
É interessante. Gente do mundo inteiro cai aqui acidentalmente.
Mas, o mais curioso, são pessoas que fazem buscas, e meu blog aparece como resposta na ferramenta de procura.
Se você entrar no Google e digitar algo - por exemplo - aranha - talvez uma das páginas será meu post sobre minha vizinha Lucrécia (a aranha da quina do banheiro, eu já falei dela aqui duas vezes. Sim! Ela está de volta! Mais obesa que nunca! Vai parir todas as aranhas até 2012!)
Voltando ao assunto:
Querem saber o que as pessoas buscam que as fazem cair aqui? (Amostra do dia de hoje)

10. Sofá roxo
09. Horóscopo
08. Eu só quero saber do que pode dar certo
08. Ruivinhas
07. Elogios
06. Como dizer (eu te amo, eu te adoro, eu te quero, e afins)
05. Chá (de fraldas, de batizado, de noiva, de casamento)
04. Convite (de batizado, de casamento)
03. Decoração (chá de fralda, chá de noiva, chá de batizado)
02. Morenas nuas
e a Top Ten de todos os dias, meses e posts:

Isso mesmo, pessoal, muita gente procura por Velha nua na internet e caem aqui no meu post - imagino a frustração do pesquisador, ai, ai...

22.11.09

Calor, frio, confiança

Passei a tarde brincando na piscina com o Enzo, a Marina e o Bernardo (2, 3 e 3 anos respectivamente). O sol estava bem quente e a piscina com aquecimento solar estava praticamente insuportável!

Comentamos que ainda assim, as crianças se divertiam muito. Eu praticamente cozinhei, o desconforto da água quente intercalado com o chuveiro super gelado do lado de fora!

Alguns casais afirmaram que vão instalar ar-condicionado nos cômodos da casa, para os próximos filhos que já chegarão.
Penso o contrário - se tem uma coisa que nós adultos precisamos ensinar para as crianças é se adaptarem ao calor intenso que vivemos, maior a cada ano. Porque o planeta não vai dar conta de ar condicionado em todas as casas.
E além do mais, o aparelho é isso mesmo - ele condiciona sua sensação a simplesmente não suportar o calor, tornando nos cada vez mais mimados quanto à umidade e a quentura do ambiente. Exatamente o oposto do que precisamos ser para vivermos no Planeta Terra por mais 20, 30, 40 anos...

Sou contra refrigerar as casas. Até porque, me parece que adultos sofrem muito mais com isso que as crianças. Nós adultos sofremos pela EXPECTATIVA da água fria, que não está lá! Do clima agradável de sol com vento, ou chuva suave...enfim - Se soubéssemos não ter expectativa, não esperar nada da temperatura da água ou do tempo, sofreríamos muito menos com o calor.
Crianças vão esquiar ou brincar no sol do nordeste sem reclamar da temperatura. Ela é o que é. O resto é diversão! São os pequenos que já estão adaptados, nós é que precisamos abrir mão das temperaturas amenas que vivemos até aqui. Para as crianças dessa geração, o parâmetro é outro. Elas não sofrerão como nós, a geração trânsito-aquecimento-global.

Na piscina, cozinhando de calor, estico os braços para o Enzo pular sem qualquer desconfiança - se entrega ao salto, certo de que encontrará minhas mãos no momento exato que o fôlego acabar.

Crianças são assim - confiam.
Eu já fui assim, todos nós - já tive a certeza de ter no outro a mão estendida, na hora certa que o ar acaba - mas palavras e atos vão diluindo essa confiança inata...
Me pergunto quanto ainda tenho desse salto para os braços de alguém, dessa fé, sem sombra de dúvida, de que serei salva na hora certa.

De volta em casa, ao entrar no chuveiro, noto que a aranha grávida sumiu.
Com uma ponta de tristeza, me sinto abandonada. O canto da parede vazio, a teia sem aranha, sem filhotes.
Vai ver que ela nem estava grávida, era uma aranha gorda que cansou dessas paragens.
Não a culpo. É chato mesmo ficar sozinha na sua teia e ponto... mas, ah! assim sem se despedir, pra mim é o que mais dói!

ps - feliz aniversário, Bruno. Obrigada por ser (um dos poucos) braços que me alcançam quando o fôlego acaba.

20.11.09

Sete dias, pra quem?

Estou inda à missa de sétimo dia do meu avô Francisco.
Ele morreu de câncer, aos 91 anos, em casa.
Nunca foi católico.
E Deus mesmo, ele só aceitou de uns dois meses pra cá.

No dia do enterro, alguns quiseram levar um padre para uma última oração.
Fui contra. O velho Chiquinho não ia gostar nada disso.

Hoje, vamos celebrar o sétimo dia numa missa que eu tenho certeza que ele repudiaria. Assim como a missa que fizeram para a esposa dele, minha avó Antônia.

Em breve, vou ser madrinha de batismo da Sofia, filha mais nova do meu único irmão.
Nem ele, nem minha cunhada são católicos praticantes. Mas acho que acreditam em Deus.
Eles sabem que eu também não sou (mais) católica, mas budista.
No entanto, haverá batizado, com o tal cursinho de padrinhos no final de semana e tals.

Para quem? , me pergunto, ainda fazemos rituais que não mais nos tocam?
Li hoje em algum lugar que Einstein escreveu algo como:
senso comum é aquilo que as pessoas concluem quando têm 18 anos e nunca mais mudam de opinião.

Adoro os rituais. Todos. Pela beleza estética, pelas músicas e vestimentas, pela intensidade.
Só não tenho certeza se praticar o catolicismo por ser senso comum é ser espiritualmente elevada...
Por que tenho que seguir estes rituais religiosos que não me falam ao coração?

Sigo. Ou me atraso para a missa.

18.11.09

Morte e vida, Fabiana

Com a morte do meu avô, enxergo de perto a fragilidade do meu pai e o coração aperta.
A cada minuto me dou conta do quanto ainda tenho pra viver e do quanto quero que tudo seja intenso e sincero.
Temo não realizar alguns sonhos,
temo perder aqueles que amo.

Mas a morte sempre me traz a lúcida necessidade de viver a minha vida, só a minha, do meu jeito, do único jeito que sei, com todas as minha forças, com todo o meu amor.

Pra tudo e pra todo mundo.

Dizer adeus pra quem morre, me dá a medida exata do tamanho (pequeno) da vida e do desejo gigante de viver pra sempre.
Isso dói.
Aqui, bem na boca do estômago.

12.11.09

Essas coincidências...

Vaidade
(Florbela Espanca)


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para enhcer todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...

E não sou nada! ...


- poema que caiu na prova do último domingo...-

11.11.09

Aranha grávida

Tem um aranha grávida morando na quina da parede do hall do banheiro.

Tudo começou quando a vi fazendo teia entre as portas do meu quarto e do banheiro. Local privilegiado: arejado, mas não muito claro. Bonito,ouve-se a tv e o som. Sente-se o cheiro de xampu e de comida, não ao mesmo tempo, de preferência, ainda mais quando se está grávida porque diz que o enjôo de cheiros é terrível. Eu aposto que vou ser uma grávida enjoada com cheiros porque já sou assim mesmo sem neném na barriga!

Toda vez que saio do banho pela manhã, olho para a aranha e a cumprimento cordialmente.

Ela, nada.

Sinceramente, acho meio frio da parte da aranha. Sou sua única vizinha. E nem sou sua predadora, já que parei de comer carne faz umas semanas...e sendo budista, só mato o que como. Ou pelo menos tento. Fora o povo que mato de raiva, mas aí eu preciso ser avisada. Afinal, sou budista mas não leio mentes. Se tá com raiva de mim, tem que falar antes de morrer. A culpa não será minha no caso. Nada a ver com budismo. Ou aranhas grávidas.
Aonde eu estava mesmo?

Então os dias e as noites passam para todos nós, inclusive para a aranha e eu.

Noto a aranha ficando mais preta. Não, não mais preta, mais encorpada, ao contrário da minha própria imagem no espelho, que se esvai a olhos vivos; a aranha ganha corpo quase que diariamente! Sem dúvida, ela não tem a gastrite que tenho. E nem as insônias.
Vida de aranha é assim: fica lá, na teia, olhando minha vida passar. Como as câmeras de vigilância, só que bem mais íntima. Até porque, aranhas têm 4 pares de olhos... ou estas são as abelhas? Ah, e depois vou contar das abelhas e do litro de gasolina.
Bem, voltando à aranha prenha, antes de mudarem o canal!

Estranhamente, não há bichinhos presos na teia que já ocupa boa parte do canto da parede. Só uma vez vi um insetinho tipo mosquitinho se esperneando por lá. Devo ter sido o manjar dos deuses das aranhas.
No dia seguinte, o mosquitinho sumira. E a aranha, mais gordinha.
Deve ser horrível ser aranha. Imagina, você come um insetinho só e já puft - vira uma gordita!
Se bem que eu, se comer um brigadeirinho numa festa infantil ... bloft! - engordo cem quilos.
Tá, cem é muito, mas eu sinto o brigadeiro se multiplicar na minha corrente sanguínea e espalhar o açúcar nos lugares mais incovenientes: bunda, barriga, coxas.
Saco. Eu tava falando da aranha e já pulei de assunto mais uma vez...paciência, meu cérebro funciona assim! Especialmente nos dias sem dormir e comendo papinha sem sal de arroz e batatinha. Tipo hoje. Ufa. De volta à aranha.

Eis que hoje pela manhã, olho para o canto como habitualmente tenho feito. A aranha estava OBESA! Com uma cara péssima mesmo, gente. Tipo com prisão de ventre, enfezada total. Foi daí que concluí - a bicha tá grávida, meu!
Sorri - tia de arainhas, demais!

Esperei ansiosa a dona Antônia chegar - hoje é dia de faxina, adoro. Chego à noite, só a capa do Batman e abro a porta pro cheiro sensacional do amaciante deixado nas roupas do varal. A casa caladinha, limpinha, morrendo de saudades de mim. Acendo um incenso, abro as janelas e vou sentindo devagar, o cheiro das roupas molhadas perder lugar pro incenso de amêndoa ou cravo. Fico assim nas quartas à noite. No silêncio limpinho da minha casa comigo dentro. E a dona aranha!

E daí que a dona Antônia chegou quase oito e eu já tinha feito o café pra nós duas. Mas a ansiedade era pra dar as intruções do dia:
- Tá vendo aquele cantinho ali? Não é pra passar a vassoura ali. Deixa sujo, não faz mal. Tem teia de aranha, eu sei. Deixa. Tem uma aranha morando comigo. Ela tá gordinha e eu tenho quase certeza que o parto é hoje. Ela tá péssima, até virou o rosto pra parede, tadinha. Se puder, cante umas músicas e tal. Ela fica sozinha, deve ser um pouco isso. Digo porque sou assim. Se me sinto péssima, falo que quero ficar sozinha, mas é pura mentira. Gosto de dengo. Ela também. Eu acho. Ainda mais se estiver para ter filhos, pense bem: uma baita responsabilidade, nesse prédio em reforma, em época de chuvas e cigarras, aonde arrumar comida pra tanta gente, melhor, arainhas? É muito complicado ser mãe aranha. Melhor respeitar. Pelo menos se fosse comigo, ia gostar se aranhas não me aborecessem na minha gravidez. Né?

Cá estou. Pensando na aranha. Será que a dona Antônia deixou ela parir em paz? Para onde vão os filhos das aranhas do mundo?
Do trabalho, vou meditar. É possível que as aranhas passem nos meus pensamentos meditativos.
Chegarei em casa tarde e sem dúvida, vou correr para ver a quina do hall.
Espero ter a sorte de ser tia de arainhas hoje!

Eu tinha uma moral da história pra finalizar. Mas deixo o texto assim mesmo. Em aberto. A seguir cenas. Vejam no próximo episódio. Como a vida da aranha. E a minha também.

10.11.09

Da minha prima Júlia

Receita de Felicidade

Pense numa boa lembrança
E junte com outras mais
Afinal quando se trata de alegria
Repetir nunca é demais
Pãozinho quente da vovó
A certeza de nunca estar só
Faça as pazes com os inimigos
Encontre mais amigos
Viva com muita emoção
E se alguém perguntar com curiosidade
O que dará essa poção
Felicidade é a resposta para a questão


Lembre – se, todas as vezes que estiver triste ou num momento difícil lembre –se do poema, nem precisa ser dele inteiro só uma parte serve.

Júlia tem 9 anos, é carioca e estuda ballet, karatê, robótica e escreve nas horas vagas.
Beijo, Julix, você é tuuudo de bom!

8.11.09

Dica

VIRGO [August 23–September 22] "Hey Rob: I was having trouble finishing my novel— typical writer's block. So I sidetracked myself into making silly creative projects—papier-mâche chickens, masks made out of junk mail, collages incorporating bottle caps and dryer lint. I can't say any of it is 'art,' but I feel creative again and my house is full of colorful stuff I whipped up myself. If you wait to be perfect, I concluded, you'll never make anything. I tried something I knew I'd be bad at, so failure didn't matter. Now I'm branching out with my inadequacy—not waiting for Mr. Perfect, but having a beer with Joe Flawed, forgetting to be right all the time, admitting that I haven't a clue. I've become smilingly, brilliantly dumb. —Inappropriate Virgo." Dear Inappropriate: Congrats! You're doing exactly what I want to advise all Virgos everywhere to try.

E acrescento - se Você espera o momento perfeito, o tempo passa sem você ter feito nada. Ou amado ninguém.

5.11.09

Convite

can you come over on the 20th for dinner- a few drinks ? just like old times
love, lucy.

Esse foi o melhor email que recebi nos últimos meses.
Daqueles que a gente abre um sorriso na frente da tela.

As amizades que plantamos e nunca mais regamos, de repente, nasce uma outra nova flor: e bem na hora que a gente mais precisa do perfume!

As sementes que já plantei, nasceram, sim! É que como eu, são preguiçosas para sairem dos cobertores da terra, demoram o tempo que precisam, esperam cair bastante chuva e fazer muito calor lá embaixo...só então, ainda bocejando, saem para ver a luz do sol - e é tão bom quando elas finalmente apontam!

Faz toda a espera valer a pena!

3.11.09

A morte do Besouro

Saindo da casa dos meus pais, no jardim em frente ao estacionamento, o Enzo encontra na grama, um besouro preto, grande, morto.

- Papai! Um Besouro!
- É meu filho. Deixa ele na grama, ele já morreu.
- Ele vai voar, papai?
- Não, filho, ele já morreu, ele não voa mais.
...
Olha para o inseto duro e teso entre os dedinhos brancos.
...
- Papai, quando o besouro "desmorrer" ele vai voar, vai?

31.10.09

Cataventos metálicos

Estou no banco de trás de um carro preto, meu irmão, deitado no porta-malas, dormindo.
Sinto um sono quase doentio, uma sensação incômoda de não ter controle sobre mim mesma.
Estou sendo sequestrada. Meu irmão e eu.

No banco da frente, dois homens altos, bonitos e calados.
Eu sou criança, mas também não sou.
Acordo meu irmão discretamente, ele volta para o banco de trás e ficamos juntos, de mãos dadas em silêncio.
Ouço somente o tambor do meu coração.
É um medo que nunca senti. Os homens se entreolham e olham para trás.

Passamos agora por uma espécie de campo com torres altas e discos prateados - como estes parabólicos - só que rodam velozmente, são cataventos metálicos mas servem para outras coisas, não sei dizer. Algo a ver com energia ou comunicação.

Paramos. Faz calor, está seco, mas o sol está quase se pondo.
Entramos num orfanato, asilo, uma construção baixa que se desdobra em inúmeros cômodos e quartos. O lugar está cheio de turistas, crianças...
Há freiras e enfermeiras, e com o Bruno pela mão, sigo andando na frente dos homens sequestradores. Paro em frente a uma senhora de azul marinho com a cabeça coberta como uma freira. Engasgada pelo choro, peço ajuda e explico rapidamente o que está acontecendo
- Você não está segura aqui - ela me fala aflita.

Ainda com o Bruno pela mão, sigo para fora da casa. Nos fundos há um pátio com pessoas trabalhando em uma horta grande. Agora, está ensolarado e as pessoas parecem felizes.
Vejo que há uma outra propriedade, do lado de lá da cerca. Dois homens conversam através da cerca, e ali, há um buraco no arame. Andando calmamente, com medo de despertar desconfianças, penso em passar pelo furo da cerca e pedir ajuda do outro lado.
Mas agora, há Marina, uma menina de cinco anos, oriental, que precisa também sair dali. Eu só sei disso, e não posso deixá-la para trás.

Volto para buscar Marina, e com sucesso atravessamos a cerca para então pedir ajuda ao fazendeiro vizinho. Nesse momento, percebo que é tudo uma armação.
Todos ali são comparsas, coniventes com os sequestrados.
Eu não posso contar com ninguém.

Acordo. Com o coração batendo forte, volto a dormir teimando em achar uma solução. E sigo sonhando:
Se não posso contar com ninguém, vamos correr os três por entre as plantações até chegarmos em algum lugar.

Acordo mais uma vez. O coração ainda disparado, volto a dormir determinada: deve haver algo melhor:
Nessa versão, vamos sorrateiros até o jipe do fazendeiro, e como sou adulta, mas criança, sei dirigir. Roubamos o carro e seguimos até o por do sol por uma estrada de terra e solidão.

Acordo uma última vez. É hora de trabalhar.

29.10.09

Maldades durante a insônia

no mercado:

Na fila do caixa, coloco minhas compras na esteira. O homem atrás de mim olha atento. Primeiro pro meu decote, depois para minhas escolhas: uma garrafa de champanhe, chocolate, queijos, velas cheirosas, óleo de massagem.
- Noite de comemorações?
- Han, han, nem olho de volta, preguiça até de ser antipática
- Essa champanhe é boa, aposto que é encontro romântico
- Isso mesmo, - e ainda bem que chegou minha vez
- O seu namorado é um cara de sorte
Pago em dinheiro e espero o troco fazendo uma breve pausa na conversa.
- É namorada, amigo. NamoradA. - saio sorrindo escondida.

no posto de gasolina:

Saio do carro para passar o cartão de débito.
Vejo o mesmo movimento do carro ao lado. Um homem.
- Você vai pagar também? - ele pergunta todo sorridente
- Não, pra mim é de graça - com uma preguiça louca de ser legal de manhã.
- Hahahaha! Sério! Também, bonita desse jeito, você merece
- Ah, mas eu não sou DESSE JEITO. Eu sou um ser de outro planeta travestida de humana para entender por que os homens são tão chatos especialmente nas primeiras horas da manhã. Câmbio desligo - e faço um sinal pro céu, como que me comunicando com meus compatriotas ETs


na lojinha japonesa de produtos naturais e orientais:

Olhando a prateleira mais alta, estico os pés e não alcanço a garrafa.
- O senhor pode por favor me ajudar? - peço para o primeiro homem que vejo.
- Claro, minha filha - com cara de tarado.
- São essas garrafas aí de cima. Duas, por favor.
- Saquê? Nossa, vai dar conta de beber isso tudo? - com cara de quem quer ser convidado.
- Eu não. São para o meu amo. Hoje à noite ele me amarra e me chicoteia por uma hora completa. Depois, joga o saquê por cima das feridas. - com voz suave, natural.
- O que é isso, você só pode estar de sacanagem - com cara de nojo, medo, desgosto.
- Ah, nem é tão ruim, já acostumei. Só a parte que ele joga sal por cima das feridas e lambe é que ainda dói um pouquinho - falando perto do ouvido do homem e saindo devagarzinho.

28.10.09

Visão

Descendo a rua das escolas - que deve ser a W7 sul - paro no sinal em frente ao Elefante Branco.
No acostamento, estacionada, uma Brasília branca com o bagageiro de trás aberto e uma bunda amarrada num jeans velho se mexe de um lado para o outro, o dono desta arrumando isopor, guardanapos, tals.

Por cima do veículo, uma faixa:

Lanches Japão
- churrasco grego
- xburgue e hot dog
- tapioca

...
Adoro o Brasil.

27.10.09

Meu Palio e eu

Finalmente, estou com meu carro de volta.
Com nove anos de uso, o bichinho nunca tinha passado por um mecânico, uma regulagem.
Alguém trocou os pneus dele pra mim, o óleo, acho que troquei umas duas vezes esses anos todos.
Não é à toa que o carro realmente não tinha mais o que dar.
No quesito carro, sou um desleixo.
Preguiça, desinteresse, falta de cuidado com o que é meu.
Vou morrer numa grana, mas o carro tá que até parece novo! Limpinho, levinho, cheiroso...

...

Fui dirigindo à noite, sorrindo sozinha e pensando séria:
Será que repito esse comportamento em outro lugar?
Com pessoas?
Fiquei pensando em algumas figuras que adoro e que tenho preguiça, desleixo.
Não cuido, não ponho água, não dou um gás, não alimento a relação...
Uma hora, a coisa explode.
É que as pessoas cansam de serem deixadas de lado.
Como meu carro, elas param de funcionar.

No caso do automóvel, é só colocar no mecânico, fazer um rombo na conta bancária e está tudo perdoado.
E com aqueles que quero bem? Como faço para aprender a cuidar de alguém que já está na minha vida a tanto tempo sendo negligenciada?

...

Prometi mudar minha relação com meu carro.
Será que consigo prometer o mesmo para as pessoas ao meu redor?

26.10.09

Discussão

O bom de quebrar o pau no almoço é a dieta forçada que faço.
Deixar uma café da manhã sem terminar, é sucesso na economia de calorias.
O problema é a compensação em chocolates
e porcarias vendo filmes antigos no sofá
ou afogada na biblioteca.
Sorte minha que uma hora, tudo se resolve.
Até as brigas,
até o dinheiro
até o carro!
E o que não tiver solução, solucionado está!

23.10.09

Ensinamento

“Estudar o caminho do Buda é estudar a si mesmo.
Estudar a si mesmo é esquecer-se de si mesmo.
Esquecer-se de si mesmo é iluminar-se por tudo o que há no mundo.
Iluminar-se por tudo é tornar-se senhor de seu próprio corpo e de sua própria mente.”
(Dogen)

Eu ainda estou no primeiro verso.
E acho que fico nele até o fim dessa vida fácil, fácil...
Aff, que difícil!

22.10.09

Thomas X Cultura

As minhas tardes agora são na biblioteca.
Escolhi a da Casa Thomas Jefferson, uma escola de inglês que é pertinho de casa, não perco tempo no trânsito e fica aberta até tarde.
É pequena, bem iluminada, um tanto barulhenta e desorganizada. Para lembrar o jeito democrático do americano. Cada um cuida de si, tudo pode, as regras são maleáveis mas existem.
Foi também uma escolha emocional.
Dos 13 aos 17, passei minhas tardes naquele lugar.
Fui obrigada pelos meus pais a aprender a língua inglesa.
Ia para aula chorando todos os dias. Um ódio mortal daquela cultura Mickey Mouse.
O primeiro semestre foi muito difícil, mas passei com boas notas.
No segundo semestre, fiquei na turma da minha melhor amiga, me apaixonei por um amigo dela e consegui cantar uma música inteira dos Beatles. E entendi tudo.
Daí, decidi:
Eu era do time Thomas. Descontraída, sotaque califórnia. A minha cara de então.
E tinha o pessoal da Cultura Inglesa. Aquele sotaque horrível, aquelas pessoas super sérias. Argh!
Thomas 1 X Cultura 0

Aos 17, passei um ano nos Estados Unidos e um mês na Inglaterra e Europa. No primeiro, sofri horrores, saudades, isolamento, frio. No segundo, visitei lugares lindíssimos, conheci pessoas incríveis. E Londres pareceu bem melhor que minha pequena cidade no interior de Ohio.
EUA 1 x Inglaterra 1

Seis anos depois, fiz outra visita aos EUA. Dessa vez, de seis anos. A cidade escolhida foi Nova York. Me apaixonei pela cidade, pela minha profissão, pelo homem da minha vida (na época)
EUA 2 x Inglaterra 1.
Mas, 11 de setembro foi cruel, os EUA perdem um ponto - empate no jogo dos sotaques da língua.

E não é que de novo, seis anos se passam e vou novamente visitar Londres? Em 2008, meu Natal foi por lá. Visitei o sul do país, com suas praias gélidas e suas montanhas de neve e ainda por cima com os olhos escorrendo mel por um homem inglês. Tudo lindo.
EUA 1 X Inglaterra 2.

Faço essa tabelinha mental saindo da biblioteca da Thomas hoje.
Eu bem que tentei empatar o jogo novamente. Mas o ar condicionado quebrou e fazia 3 dias que eu estudava e suava na mesma proporção dentro da pequena e confortável sala de livros.
Hoje, Inglaterra venceu o jogo: peguei minha mochila e mudei de time.

Fui estudar na Cultura Inglesa. Simples, silenciosa, espaçosa. Para lembrar o lado civilizado do inglês. Cada um cuida de si, pode tudo o que não é proibido. As regras existem e nem precisam ser ditas. A minha cara de hoje.
Cheers, mate!


(sim, há uma interessante coincidência na minha vida: a cada seis anos, algo muito intenso aconteceu...mas não se apeguem a isso. Qualquer padrão vira padrão quando se quer ver um padrão...falaremos sobre isso num próximo capítulo!)

21.10.09

Cirurgia auricular

Sonhei que havia feito uma cirurgia séria nos ouvidos.
Acordava depois de dormir por 18 horas, e minha mãe cuidadosamente fazia furos de brinco de diamantes nas minhas novas orelhas. Eram diamantes grandes e lindíssimos.

Entendi tudo: é hora de acordar, de estar desperta e atenta.
É o momento de aprender a ouvir.
Minha mãe, que sou eu mesma mais sábia, me mostra que as palavras são preciosas como uma pedra rara; enfeitam, mas também pesam.

15.10.09

Eu não faço a minha parte

Hoje, muitos blogs combinaram de escrever sobre aquecimento global.

Mas, eu não tenho nada a dizer.
Como todo mundo, amo a natureza.
Como todo mundo, reciclo o lixo, economizo saco plástico do mercado.
Como todo mundo, tenho um carro e ando raramente a pé ou uso o transporte público.
Como todo mundo, minha justificativa é que a culpa é do governo.
O que faço na minha rotina não contribui em nada para desacelerar as burrices humanas feitas até aqui com o meio ambiente.

Tudo bem, não frequento shoppings.
E há tempos não compro nada.
Tudo bem que decidi não trocar meu carro porque o Planeta não precisa de mais um carro zero na rua e um velho vendido a preço de banana. (e também porque eu não tenho dinheiro)

E mandei o meu carro velho para a oficina depois de 9 anos sem nunca ter trocado nada - e vou gastar uma pequena furtuna, mas acho que vou poluir menos com um carro mais regulado. Isso me consola.

O fato é - as pessoas não mudam.
Ou melhor, elas só mudam quando elas querem.
E ainda assim, é um suplício ser diferente.
O que fazer para mudar o jeito de ser, de pensar, de agir de alguém?
Não sei. Não mesmo.

Eu não mudo!
Eu não consigo mudar meu jeito de ser mal humorada de manhã!
Mudar minha rotina, então...
E olha que eu sou movida a desafios, adepta a mudanças só pra incomodar, tals.

Não, eu não faço minha parte.
Não faço porque é chato mudar, é difícil lembrar de ser diferente, é complicado reestruturar a rotina tão bem estabelecida...
E sei que o Planeta vai virar um inferno para se viver.
E penso nos meus sobrinhos que terão que aguentar chuvas e calor desmedidos por todo esse comodismo que das gerações anteriores.
Daí, penso se quero mesmo ter filhos para viver no Planeta que vou deixar como legado.
E é só nessa hora, que eu tenho vontade de mudar.

14.10.09

aquecimento global!

http://oglobo.globo.com/blogs/nossoplaneta/

Anel de ouro

VIRGO [August 23–September 22] To extract enough gold to make a ring, a mining company must process a ton of ore. Also, many writers generate a swamp of unusable sentences on their way to distilling the precise message they want to deliver. Please keep these examples in mind as you evaluate your own progress, Virgo. It may seem like you're moving at a crawl and producing little of worth, but you're on your way to producing the equivalent of a gold ring.

9.10.09

Retorno

Estávamos num dos ônibus turísticos de dois andares e passamos pelas muralhas da cidade.
Eu chegava novamente a Istambul!
Apontando aqui e ali, mostrava aos meus pais, meu irmão e cunhada, as belezas que eu já conheço...
Ao chegarmos ao centro antigo, fico emocionada e choro.

A Mesquita Azul!
Estava entardecendo num céu cinza e luz fraca de sol.
Andamos por pontos da cidade que eu não visitei da primeira vez.
Pegamos um bondinho e chegamos até uma praia.
Já é noite, e sou a única que entro no mar.

Dou um, dois, três mergulhos nas águas iluminadas somente pelo luar.
O mar é verde escuro, morno, as espumas branquinhas.
Me sinto dentro de mim.
Em casa de novo,
No mar turco.

30.9.09

Raiva

Cheguei no Templo ontem à noite para dar a prática de meditação. Com raiva.
Com raiva de uma pessoa específica.

Com as portas da nave fechadas, acendi as velas, o incenso.
Acendi a luz do altar principal, do tatame de meditação.
Abri as portas laterais e uma rápida brisa soprou o ar quente para fora.

Sozinha, olhei para o Buda Amida e fiz a reverência do incensamento.
Ao levantar meu corpo, tive a sensação do Buda estar sorrindo pra mim!
Outra reverência, olho nos olhos do Buda. E ele sorri.
Me sento então na primeira cadeira, da primeira fileira e fecho os olhos para meditar sozinha.
Em mim, os olhos do Buda sorri.

A raiva é o sentimento que temos quando gostamos de alguém.
E gostamos tanto que queremos que essa pessoa tome uma outra atitude, diferente daquela que nos trouxe raiva.

Raiva dos outros é uma tentantiva de trazer mudança. Para melhor, sempre.
E se eu transformasse essa raiva em atitude?
Ah, mas não tenho coragem de falar sobre isso com essa pessoa...

Logo, só me resta mudar a minha percepção dessa pessoa. Me mudar.
Para não ter raiva dos outros, o jeito é mudar em mim o que me faz ter raiva:
Ser mais paciente, perseverante, mais amorosa.
E sorrir.

No fim da noite, um presente incrível:
Lina me deu O Caderninho dos Delírios.
E o primeiro deles foi:
Todo meu pensamento de raiva se transforma em rosa amarela
Cheirosa e aberta.
Acordei com um buquê no café da manhã

27.9.09

Preguiça

Não é falta de inspiração, não.
Tô cheia de ideias.
Mas a preguiça tá maior...

25.9.09

Horóscopo inspirador

VIRGO [August 23–September 22] Your time is up, Virgo. No further stalling will be allowed. We need your answer now: Will you or will you not take advantage of the messy but useful offer that is on the table? Please take advantage of this chance to prove that you love yourself too much to get hoodwinked and abused by perfectionism. Be brave enough to declare your allegiance to the perspective articulated by the mathematician Henri Poincaré: "There are no solved problems. There are only more-or-less solved problems."

Dr. Mr. Pincaré: vamos tomar um café?

24.9.09

Fé é Confiança

Quando o sol está brilhando quem ousaria dizer "acredito que o sol está brilhando"?
A verdadeira confiança tem uma certeza que não requer uma afirmação ou confirmação.

Na vida cotidiana, a confiança mútua é a base para qualquer tipo de relacionamento significativo.
(...) quando uma vez disse ao meu professor budista:
"nunca mais vou confiar em nenhum ser humano!"
ele respondeu:
"Claro que não. Como você vai confiar em outros quando você não confia em você mesmo?"

A dificuldade verdadeira da confiança é o estado do auto engano, a forte urgência do ego-eu de se defender e se proteger. Quanto mais o ego se confronta com as dificuldades da vida, mais ele se retrai na sua concha protetora.
A verdadeira confiança não depende do "EU" faço ou acredito.

A pessoa de verdadeira confiança torna-se inteiramente confiável, no sentido mais corriqueiro da palavra.
A razão é que a base da verdade não é a mente limitada humana, mas a Realidade da Luz e da Vida Imensurável.
Tal pessoa não é necessariamente boa ou virtuosa.
Ser confiável é simplesmente o caminho mais natural de viver como ser humano verdadeiro e real.

(Taitetsu Unno - "Fé como verdadeira confiança")

Portanto, meus queridos, sejam confiantes.
Sempre. Em você, no próximo, na Vida.
E eu também vou pegar carona nesse conselho...

23.9.09

Vela

Quando você acende uma vela, pode usar esta chama para acender uma outra.
E outra
E outra
Isso não faz a primeira chama diminuir, ficar sem calor ou sem luz.

Pelo contrário, ilumina ainda mais tudo a sua volta.

E não seria o mesmo com o amor?

21.9.09

Burocrata

É isso.
Vou ser uma burocrata.
Servidora (de preferência Federal) pública que tem mesa, cadeira, ramal, lápis, caneta, computador. Ponto pra assinar, contra-cheque, plano de saúde.

Já me aposentei (emocionalmente) da edição desde março.
As condições no trabalho hoje em dia só me ajudam a fincar o pé e pensar:
Eu sou mais eu, tenho que tomar um rumo e seguir o que quero.

E o que quero, mais que tudo, é ter uma família.

Sendo honesta, essa meta é bem complexa, já que envolve uma série de decisões minhas, mas também de uma segunda pessoa (tendo em vista que eu prefiro ter uma família com um par, um companheiro)

Mas daí que uso a simplicidade do Alberto para desenrolar problemas difíceis - como um quebra cabeças gigante, o melhor é isolar as partes e não pensar no todo (pelo menos num primeiro momento) - separar as pecinhas por cor, forma e só depois localizar seu local.

Por isso, o primeiro passo para eu seguir pensando em ter uma família é:
- ter condições financeiras para sustentar uma. Que aliás, é a parte mais simples de se conquistar: com trabalho e com estudo o dinheiro sempre chega.

Claro que parece precipitado pensar nisso hoje, já que nem grávida eu estou! (graçassssssssss).
Mas, pense comigo: se eu começar a estudar para concursos hoje, digamos que eu tenha sucesso mais ou menos no mesmo período do ano que vem - 2010. Isso provavelmente significa que eu tomarei posse em até 2011.
Com isso conquistado e garantido, posso então pensar nas coisas mais complexas:
- um companheiro de vida e de sonhos, uma figura que queria dividir comigo coisas parecidas...
(é, porque querer coisas parecidas mas não dividir comigo eu já encontrei bastante gente legal...)

E sendo bem mais pragmática, se com 39 anos essa figura aí de cima insistir em se esconder, estarei pronta para fazer terapia, grupo de ajuda, meditação, tudo, tudo que eu puder fazer para estar emocionalmente decidida a ser mãe.
- de inseminação artificial, de pai desconhecido, ainda não decidi -
(como no jogo, as peças mais difíceis a gente deixa mais pro final do quebra cabeças, quando parte do todo já está bem estruturado e é mais fácil enxergar os buracos...) - mas vai chegar essa hora.

Só que quando a maternidade chegar, eu quero ter um emprego com um salário legal, um seguro saúde legal e, de preferência, morar num prédio com elevador (pra me ajudar a carregar as compras e a barriga) lá pra cima...

Isso. É por isso que eu quero ser burocrata. Não é desperdício de talento artístico, nem resignação com Brasília. É porque tenho vontade de ter uma família, ser mãe.
Talvez, nada disso aconteça. O quebra cabeça caia no chão, eu desista de recomeçá-lo; ou eu perca as pecinhas e não consiga jamais terminá-lo; ou sei lá, eu queria brincar de outra coisa...
Mas preciso ter certeza absoluta que fiz tudo do mundo prático e material para concretizar esse sonho.

Começo pelos estudos. O mais fácil. Como separar as pecinhas de mesma cor.

18.9.09

Setembro

Tudo em silêncio.
As cigarras,
O vento
A fala -
estou muda
oca?

Vivendo aqui fora
calada por dentro


13.9.09

O punk é lindo!

Dor de cabeça cedo
(ou talvez depois de duas horas no sol forte?)
Saladinha, chuveiro, ilha de edição.
(Num dia lindo como esse, eu merecia mesmo uma ilha de paraíso, mas enfim.)

A cabeça piora
Mas, não há nada de errado em ouvir um bom som no por do sol
(e a cabeça explodindo?)

Café preto forte sem açúcar
Chuveiro, short e camiseta

Rua e cerrado
e a Plebe Rude toca no laranja do céu

Cerveja
Calor
Estrela
Beijo

Depois falam que é a arte que imita a vida...

12.9.09

Recado Pessoal

Querido Anônimo,
se você ainda me lê:
mandei inúmeros emails para você no último mês!
Se aí em Ruanda o Gmail não entrega direito a correspondência...
Me manda outro endereço email para eu responder você!

Saudades, saudades, saudades!

11.9.09

Ups...quase!

Não é tarde demais, ainda não virou dia 12 de setembro e portanto, posso dizer:
Passei um dia dos infernos, só pra relembrar emocionalmente o mesmo dia há oito anos.

Mas, passou...
E de todos os cenários - tanto em 2001 quanto hoje - aqueles que vivi foram os de melhores resultados:
- Estou viva e com saúde
- Meus amados estão vivos e bem
- Estou em casa sã e salva
- Há silêncio (e não aviões) na noite
- Amanhã será um dia lindo de sol e vento - porque é setembro no Planalto Central

E não, eu ainda não vivi algo realmente trágico na vida...mesmo parecendo assim para muitos.

9.9.09

Talvez eu seja a última romântica

Mas definitivamente há algo de mágico no olhar de quem está simplesmente feliz por amar!

(Loró de noiva mais linda do ano! Bênção, afilhada!)

8.9.09

Solidão

Na manhã de feriado, encolhida no sofá.
Eis que me bate forte e densa,
a mais completa sensação de solidão.

Um silêncio profundo no corpo.
Uma quase dor no olhar.
Apertei a leitura contra o peito,
Virei de lado

E sonhei que tudo isso era muito real
Ainda bem

4.9.09

O meu Eu Te Amo

Atendo à sugestão do Cesar:
http://www.apostos.com/protensao/index.html

Eu não falo Eu Te Amo nunca.
Mesmo.
Nem pra minha mãe.
Acho que escrevo mais que falo. Conta?

Talvez porque cresci ouvindo quase nada de eu te amos ao meu redor.
Não é falta de amor, atenção!
É falta da definição dele.

E definir o que, exatamente?
Os sentimentos são linhas tênues entre pessoas -
é como um fio de nailon que amarra (ou desata) um tecido ao outro:
de um lado vai por aqui, do outro lado, por ali.

O que une os tecidos só interessa porque eles estão juntos -
mas há de se questionar a natureza do náilon?
a data de fabricação?
a largura, a medida, o tom da cor?

Se está unindo, não é SÓ isso que importa?

Quando eu digo um Eu Te Amo
vem de um desespero e de uma quase dor
uma antecipação da perda do fio talvez

O meu Eu Te Amo sai doído, melancólico e já saudoso do próprio amor
Daí porque não falo nunca.
Não mais!
Para bom entendedor, o silêncio basta.
Agora sou sorrisos e olhares.
Abraços e afagos.
Meus amados sabem bem seus devidos lugares na fiação da minha vida.
São fios de aço, densos e escuros.
Não oxidam e nem soltam as tiras.

Eu não digo Eu Te Amo nunca.
Meus fios de amor não carecem de anúncio,
Só mesmo de um outro coração para ali se embaraçar.

Mandem-me seus Eu Te Amos para termos aqui um pequeno glossário de amor!

3.9.09

Duvido!

VIRGO [August 23–September 22] I dare you to say yes to a possibility you've said no to in the past. I double dare you to try an impossible thing before lunch each day. I triple dare you to imagine you're a genius at inspiring people to like you and help you. I quadruple dare you to drive stable people crazy for all the right reasons. I quintuple dare you to fantasize that your so-called delusions of grandeur have begun to contain more than a few grains of truth.

2.9.09

Idade e perspectiva

Lúcia, amiga da família, puxa assunto com Pedro no aniversário de ontem:
- Pedro, você tem uma prima adulta, né? A Fabiana dirige, leva você no cinema...
Pedro olha de rabo de olho para mim, sentada ao lado.
- Fabiana, quantos anos você tem? - me pergunta sem hesitar
- 37, Pedro.
- Nossa, você é 14 anos mais velha que eu?
- Não, eu sou 31 anos mais velha que você. 31 é bem mais que 14.
- Você é mais velha que a minha mãe?
- Não, eu sou 3 anos mais nova que a sua mãe. Eu tenho 37, ela tem 40.
Pensa pensa pensa
- AH HA! VOCÊ É MAIS NOVA QUE A VOVÓ?????
- Sou Pedro, sou sim...a vovó tem 81! - morrendo de rir.
- Eu sabia! Eu sabia! - ele salta do sofá, agarra um salgadinho e corre pela sala!

31.8.09

Foco

Hora de alinhar
Sonhos com metas
Horas com coisas
Vida e vontades
Datas e dias

Foco no olhar
em ideias
e fazeres
pulsar o coração
asas e voar





28.8.09

coisas que aprendi aos 36

1. tenho sonhos. e eles serão realidade um dia
2. viajar para um lugar desejado acorda a alma
3. é possível se apaixonar de novo por si próprio.
4. comer bem é melhor do que eu pensava
5. é hora de me aposentar da edição
6. tá quase na hora de ser escritora
7. tá médio quase na hora de ser mãe
8. o silêncio fala, de fato, mais que muitas palavras
9. fazer o melhor sempre é a solução para o arrependimento
10. preciso de mais dinheiro
11. e mais mar
12. de menos roupas, sapatos e afins
13. conhecer pessoas diferentes é um jeito de se ver no espelho num novo ângulo
14. manter amigos antigos é um exercício de perseverança
15. esperar não tem muito a ver com esperança
16. tem tudo a ver com paciência
17. esperança tem tudo a ver com fé
18. fé é aquilo que eu sinto quando danço
19. eu detesto musculação. mas minha coluna ama.
20. me sinto mais viva quando sou pupila
21. "a inseguraça não me ataca quando erro" - não mais
22. ser tia-dinda é pré vestibular pra ser mãe. (lê-se: minha vida é perfeita!)
23. eu não sei me despedir das pessoas que preciso deixar
24. eu (ainda) não sei costurar.
25. eu sempre fui incrível. só agora que eu vi!

aqui escrevi o que aprendi aos 35


27.8.09

Existe o timing ou somos todos uns egocêntricos?

Os úlitmos eventos da minha vida podem ser analisados no mínimo na seguinte ótica:
Eu não planejei nada.

E essa coisa de não planejar geralmente significa que as coisas acontecem no timing errado, ou pelo menos na hora em que não estamos esperando.
Tenho sempre essa coisa de dizer que o timing não tá certo, que isso ou aquilo estão fora de "sinc" comigo.
Mas, tenho que admitir:
Será que não é a invenção de timing que está fora do timing ?
Porque se eu crio uma expectativa de ritmo e sucessão de eventos e eles simplesmente não acontecem assim, não seria hora de eu reajustar meu "sinc" de acordo com os relógios que regem minha vida?
Sim, porque como já falei aqui, eu não dirijo minha vida (já faz um bom tempo), eu só edito mesmo.
Daí, a recuperação dos meus olhos, a dieta maluca, a Sofia...
tudo e todos acontecendo nos momentos imprevisíveis, aparecendo nas horas indevidas, tirando tudo de lugar na minha vidinha sem sal!

E agora....ah, tanto sal! Tanto riso!

Definitivamente, não existe isso de timing errado. Sou eu que tenho que parar com essa mania de cronometrar a vida como numa corrida de revezamento.

A corrida da vida é bem diferente: ninguém devia ligar pra linha de chegada, e sim para a estrada que muda a cada passo...

Ai, ai, ficar velha é bom que só!

24.8.09

Dica de presente

Para quem está sofrendo com o que me dar de aniversário.
Aceito esse pedacinho de terra aí.
Ou um tempo nele...

22.8.09

Ideias sobre a vaidade

Para mim, o pior pecado capital é a Vaidade, seguida da Avareza - que no fundo, é um tipo de vaidade, ou não?
Eu não estou falando de gente que se arruma e passa perfume pra sair.
Nem de gente que se preocupa em malhar pra ficar gostosa no carnaval.
Dessas eu nem tenho muito a dizer porque gostaria de ter a mesma disciplina, senão a vaidade.
Eu penso muito nessa vaidade emocional. Essa noção de que sou importante pra caramba,
e de que todo mundo quer saber minha opinião sobre as coisas; saber sobre minha vida, ler esse blog aqui.
E me admiro muito com as pessoas que falam de si o tempo inteiro num monólogo infinito, tanto faz quem ouve: o importante é o som da própria voz, ter a melhor história (ou a pior, se o tema for tragédias). Eu sou assim em muitas situações, lógico. Talvez por isso me incomode tanto - porque perco meu lugar.
Mas, também me incomoda o quanto há de solidão na vaidade.
E de medo.
Porque talvez, a pessoa assim, que só fala dela pra ela mesma ouvir, já se acostumou a falar sozinha - por um histórico de nunca ser ouvida.
O intrigante é que a vaidade alimenta exatamente o que a pessoa mais tem medo - da solidão.
Porque quanto mais você fala de si para os outros o tempo todo, mais isolada e sozinha fica.
Quanto mais defende um ideia e teima em não ouvir o próximo, menos pessoas compactuam com você e seus pensamentos. Menos valor você tem para os outros, menos te ouvem, menos te admiram.
O vaidoso pensa que sai na frente, ganhando sempre. E quando chega lá longe, olha para trás e vê o vazio que criou ao redor de si.
O que será que se ganha sendo assim?

20.8.09

Ventosas

ssssuuuuc
chuóp
esfrega
aperta
puxa

e de novo
e mais em cima

creeec
crooc
ai

cheiro de menta
cânfora
arnica

dedos e pele
dor e alívio
quase lágrima
riso

tudo roxo púrpura
preto acinzentado
vai com as cores
os resquícios do inferno astral
e abre inícios às festas natal!

19.8.09

Inferno astral impera

VIRGO [August 23–September 22] No more rotten dessert, Virgo. No more silky danger or juicy poison. No more worthless treasures or empty successes or idiotic brilliance. Soon, all those crazy-making experiences will be gone, blasted, dead. By this time next week, the bad influences that were trying to pass themselves off as good influences will have fallen away in response to your courageous drive for authenticity. You will be primed to restore your innocence and play in places where purity is the rule, not the exception. Already, the wisdom of your wild heart is regenerating, giving you the strength to overthrow the sour, life-hating influences that were threatening to smother your spirit.

Eita, que o Buda me empreste luz e sabedoria. Porque o bicho tá pegando pro meu lado, vix...

18.8.09

O motorzinho do dentista

Eu hoje identifiquei o que incomoda tanto no dentista:
Mais que a dor, é a antecipação dela: o som do motorzinho.
Dá aquele suor frio, uma tensão nas costas, no pescoço, ai!

Mesmo que a boca toda esteja semi-morta
é a expectativa da dor que vem no som do motorzinho que mexe com os nervos.

E a coisa toda é tão cruelmente desenhada que os ouvidos ficam logo ali
Bem ao lado dos dentes!

O som aumenta e diminiu numa mixagem digna das torturas mais elaboradas
Não é possível que com tanta tecnologia, não há um engenheiro, inventor, sei lá
Pra mudar o som desse instrumento entrando e saindo da boca

Detesto sentir dor. Sou totalmente a favor de praticamente entrar em coma na cadeira do dentista - enfia a agulha da anestesia, que essa eu aguento feliz já que sei que após ela, nada mais será incômodo.

Só de ligar o motorzinho, dói. Medo puro.
Mais ou menos assim, as dores do coração. Antecipamos o que ainda nem chegou porque o motorzinho foi ligado. Pode nem encostar, mas só de ouvir ... já dá arrepios...
A dor que já sentimos outras vezes, volta à memória num flash - e vivemos um sofrimento passado como se fosse presente.

É pena que ao contrário da boca, no coração não há como aplicar anestesia.
Tem que deixar doer mesmo.
Até sarar.
Mas como no dentista, às vezes o medo da dor é bem maior que a dor em si.

E tem horas que o motorzinho nem dói, nada. É só mesmo nossa memória megera fazendo a gente viver coisas antigas como se fossem as de agora.

Coisinha estranha o ser humano...







15.8.09

Carta para uma Rainha

Querida Sofia,
você nasceu num fim de tarde digno de Rainhas no dia 14 de agosto de 2009.

O sol estava quente, soprava um vento morno e seco, que foi esfriando com o escurecer.
Ipês amarelos se esticam no céu anil, enfeitam o Eixão de Brasília gritando o mês de agosto!
Nuvens fofas de algodão, cheiro da terra vermelha no ar.

O Enzo brincava de bolhas de sabão.
E todos nós, muito surpresos e alegres com a sua vontade de nascer já!

Seus pais estavam tranquilos e sorridentes quando entraram para encontrar sua médica, a doutora Giovana.

E quando você apareceu na janelinha da maternidade, no colinho do seu pai! ...
Ah! Sofia, isso sim que faz tudo valer a pena!
Os olhos marejados, gritinhos de euforia!
Fotos, fotos, fotos,
Ligações, abraços, beijos
Sorrisos, só sorrisos...

O nosso amor atrevessou vidros, portas, cobertores!
Você foi abraçada e beijada por todos
Ali, deitada, olhou a gente bastante, mexendo os olhos negros e muito abertos pra lá e pra cá.

Sua pele cor de rosa em mil dobrinhas de morder!
Ficou pelada, foi medida, pesada, banhada,
Finalmente - foi mamar e dormir!

Sofia, minha Rainha-afilhada!
O mundo é o melhor reino encantado agora que você chegou!
Feliz Aniversário!

13.8.09

Intrepretações, alguém?

VIRGO [August 23–September 22] Two annoyances that had been bugging you before your exile have been neutralized. But you've still got at least one more to go, so don't relax yet. Redouble your vigilance. Check expiration dates on your poetic licenses and pet theories. Scrub the muck from your aura, even if your friends seem to find it "interesting." And learn to read your own mind better so you can track down any disabling thoughts that might still be lurking in remote corners.

11.8.09

A irmã Sofia

A Sofia está dentro da barriga da minha mãe.
Por isso, a mamãe vai ao médico. E volta feliz. Mesmo quando está chorando um pouquinho.
A Sofia fica lá dentro nadando e daqui a pouco ela vem aqui pra fora, titia?
- Fica Bijuzinho. Nadando, dormindo...
Eu nado na piscina. E mergulho lá no fundo pra pegar a argola assim:
tchuuuuuuuuuuuu

Ela é bem pequeninha. E é minha irmã.
Minha mãe não é minha irmã.
Minha tia Bijú é irmã do meu pai, é tia Bijú?
- Isso, Enzo. Eu sou irmão do seu papai...
A Dinda é irmã da mamãe.

Eu não sou irmã porque eu sou menino e meu nome é Enzo e eu tenho dois anos.
A minha festa foi do Elmo.
Os meninos fazem a barba. As meninas usam batom.
A Sofia usa batom na barriga da mamãe, titia?
- Ainda não, Enzinho. As meninas usam batom quando ficam maiores um pouquinho...

No meu quartinho novo, tem um macaco na parede, quer ver?
- Quero, quero sim.
E tenho um Pula-Pirata
A Sofia vai gostar do Pula-Pirata, tia Bijú?
- Vai adorar, Bijuzinho! Ela vai gostar muito!

O quartinho da Sofia tem um patinho na parede.
A Sofia é minha irmã mas ela também vai ser minha amiga.
Igual a Marina da tia Maju?
- Igual, mas diferente, meu Bijuca
Só que ela vai morar lá em casa e dormir no bercinho, titia?
- Isso, ela vai morar na sua casa, com seu papai e sua mamãe!

Agora, a Sofia está lá dentro da barriga nadando.
Daqui a pouco, ela vai chegar no hospital.
Mas ela não está doente, não.
Eu também não estou!
Quando ela chegar, ela vai ser bem pequeninha e vai chorar assim:
ééeeeeeeeeeeeeeee
Eu também vou chorar, mas eu choro assim:
uaaaaaaaaaaaaaaaa
O papai e a mamãe me pegam no colo quando eu choro
A Sofia também vai pedir colo

Eu vou fazer a Sofia rir.
E ela vai fazer o Enzo rir também, titi?
- Vai, Enzinho! Você vai rir muito!

A Sofia está chegando daqui a pouco...
Sete e meia
Ela é minha irmã.
Tia Bijú, o que é irmã?
- Enzo querido, meu sobrinho-Bijú.
Irmã é uma amiga com selo de garantia
É o outro lado da alma do irmão
É um jeito de amar todo estranho
Mas garanto, Bijuca
É muito muito bom!
....
Venha, Rainha Sofia!
A corte inteira te espera sorrindo.
Seu irmão Enzo será seu primeiro presente nessa vida
Seguido logo de tantas outras maravilhas!





10.8.09

Montagem e direção

Eu nunca quis dirigir um filme.
Sempre gostei de edição.
Acho que a arte de se fazer um filme está na capacidade de cada um enxergar no seu ofício, o todo em que aquilo se transformará. E na importância do seu papel como artesão daquela peça coletiva.

Sendo assim, não me sinto diretora da minha vida. Porque ela não é totalmente minha, porque ela é uma criação de todos que me rodeiam.

Apesar de viver minha própria história e, em muitas vezes, mudar o rumo deste ou daquele capítulo, não sou a diretora, a maestra, aquela que orquestra tudo. Eu não mando e desmando.

Sou sim, a editora da minha vida.
Monto as cenas que se alinhavam umas às outras de acordo com o que tenho nas mãos.
Editar, não é necessariamente, inventar algo belo naquilo que é horrível.
Muitas vezes, é preciso, ao contrário, enaltecer o terrível, mostrá-lo cru, para só assim, apresentar o belo.
Como num jogo de contraposições, trazer a sensação de que a tempestade é bela porque logo após virá a bonança!

É que o elemento surpresa brinca com essa ideia de que o controle que tanto almejamos nunca é lucro! Porque perder o controle, confiar no outro, pode trazer boas surpresas. Como ganhar o prêmio de melhor filme!

Monto a minha vida analisando o ritmo, a textura, a forma e o contorno dos eventos que me acontecem.
Se sombrios, merecem silêncios longos, planos demorados. Contemplação.
Se alegres, ganham mais cortes, a trilha sonora é mais alta, há uma certa anarquia na edição.

Agora, nesse exato momento, edito esse capítulo um tanto inquieta.
É claro para mim que é a cena final da sequência - A DIETA, A OPERAÇÃO, O EMPREGO -
E é nítido também o início da nova - OS JANTARES, A FESTA, NOVO SEMESTRE -

Saio da frente da tela.
Olho a jaqueira lá fora.
Aguardo o material bruto da minha vida chegar em minhas mãos.
Fade out.
Penso nas melhores imagens para as próximas cenas e sorrio:
Vai ter muita música alta. Vai ter luz de velas, gargalhadas. Vai ter amor em muitas formas.
E já tem muita gente trabalhando pra essa história ganhar um Oscar!




9.8.09

Vende-se Modelo 72


Na volta do almoço do dia dos pais,
ultrapasso uma Kombi como essa.
Nas pequenas janelas de trás, o anúncio

VENDE-SE
ANO 72

Sorri.

Imaginei quanto alguém daria por mim
Se ao invés de mulher, eu fosse uma Kombi de 72...

8.8.09

Sobre comida, vistas e vida

Não sou a mesma.

Forçada a prestar mais atenção ao que como,
Comecei a cultivar o delicioso hábito de cozinhar

De tanto frequentar o mercado e a frutaria
Passei a comer coisas que há tempos não provava
Cerejas
Framboesas
Pêssegos

E por estar com os olhos embaçados
As horas em casa foram sem TV, sem livros ou computador.
A falta de foco trouxe amigos mais pra perto,
e encheu a cozinha de aromas, peixes, saladinhas

O tempo longe do trabalho
Passei deixando crescer vontades
Alimentando todas
Com um carinho particular
De quem corta a cebola
Ferve a água
Espera o cozimento
Sente o cheiro,
Prova o tempero

Ficar de dieta
Ficar sem ver
Me deram uma perspectiva do que é realmente
Esperar
A paciência de ver o corpo se adaptar
Os olhos clarearem
O doce dar ponto
A vida acontecer

Pela primeira vez
Sinto e entendo que esperar
Esse processo da espera
Vem recheado de surpresas
Que podem sim, enfeitar tudo
Virar o motivo
Enquanto a espera
- do quê mesmo? -
Se transforma em outra coisa
Que nada mais é
Que viver a vida como ela está







27.7.09

Escuridão

Eu sei que parece frescura, afinal, lá se foram doze dias desde a cirurgia nos olhos.
Mas é fato - e vocês que me conhecem sabem - eu não choro por pouca merda não...
E nem estou chorando (ainda), mas reconheço que uma sombra de medo me ronda:
Eu continuo sem ver.

Meus olhos têm o foco bem pior que nos piores dias depois de uma longa sessão de edição usando lentes de contatos e quando, ao tirá-las, parecia que o mundo desligava. Eu via tudo com uma folha de papel manteiga por cima. Tipo agora.

Escrevo aqui para me despedir e me por mais tempo e tentar me disciplinar a ficar sem ler, escrever ou abrir o computador até meus olhos pelo menos derem um sinal de boa vontade para a recuperação.
E vocês que não me conhecem - sou exímia datilógrafa, daquelas que não olha o teclado pra digitar. Por isso, não há problemas em escrever, já que tenho certeza quase que absoluta que as letras que devem aparecer aqui, são as que meus dedos pressionam no teclado. Assim, aperto os olhos só por mania de ver mesmo...ler os blogs amigos, o horóscopo em inglês, nada disso eu consigo se não chegar o nariz nessa telona de 19 polegadas aqui de casa!

Estou angustiada. Muito mesmo. A minha fé está num fiapo de visão que aparece assim que acordo e olho a jaqueira pela janela da sala - por uns cinco minutos, o mundo é assustadoramente perfeito...e isso só pode querer dizer que algo lá dentro, lá no fundo do meu olho quer muito muito ver e esqueceu como!

O que resta é esperar com esperança. E fico dizendo pra mim mesma que o pior que pode acontecer é eu voltar a usar óculos - e olha que tem gente que nem vai reclamar - ...

Obrigado leitores, senhoras, senhores, amigos, Anônimo(s) e tals.
Volto. Prometo.



24.7.09

Brilho, Contraste, Nitidez

A saga laser continua.
Fui ao oftalmologista tirar a lente de contato que protegia meus olhos até então.
A cirurgia que fiz, apesar de mais rápida e sem cortes, é a de mais lenta recuperação.
Isso porque minha córnea era fina e disforme demais e não suportaria passar por outra técnica.
Tudo isso foi o que me contaram os médicos.

Bom, hoje é dia oito pós operatório.
E está tudo bem pior.
Além de o foco estar desligado - sim, porque não há uma lógica para o que eu enxergo com nitidez - a luminosidade agora me dá dores de cabeça e os olhos parecem cobertos com uma fina película de lixa de unha. Arranhando devagar e insistentemente, ora nos cantos, ora no meio, ora em todo lugar! Por quatro vezes, tive a nítida sensação de que uma agulha de costura espetava meu olho direito.

Mas, como teimo em ser um pouco Pollyanna em tudo, eu devo dizer que
pela primeira vez na vida - ou que eu tenho memória - vejo cores e luzes tão intensas!
Os vermelhos e azuis!
Os reflexos e brilhos.
É uma sensação incomparável.
Me faz pensar sobre a limitação que temos para tudo e nem sabemos.
Claro, usava óculos, sabia que não enxergava bem. Mas, de óculos, eu tinha certeza que via tudo que era possível ver!
Mas estava errada.
Ainda continuo sem ver o que é possível. Sem foco, sem nitidez...
E quando tudo voltar ao normal?
Será que verei tudo como realmente é?

23.7.09

Promessas

Eu nunca mais faço uma cirurgia nos olhos
E operada, eu nunca mais faço dieta de 30 dias para desintoxicar
E sem comer, beber, e enxergar,
Eu nunca mais aceito um convite de jantar de casa nova
E de dieta, cega, na casa de amigos,
Eu juro de pé junto pela minha querida mãe
Que eu nunca, nunca, nunca mais bebo uma garrafa de saquê sozinha.

Mas confesso: os resultados foram ótimos:
Além das infinitas risadas, conversas,
Fiz minha melhor versão de Chop Suey de filé da minha pequena saga culinária!

Kampai!

ps - beijos aos meus companheiros nesse harakiri sensorial! torço pro dia de vocês ter sido mais profícuo que o meu, aff...


22.7.09

Desejinhos

Ah!, Vontades
Hmm, quero quero quero
Ai, que coisa, isso aqui
Eita, isso é meu, só meu!
Ó, pronto, peguei
Aperto, amasso, Af!
Ix, que bom, que bom, que bom!
Nossa, isso então...
Eh, delícia!
Agora, sim, ótimo!
Ufa!

Credo. Quanto desejo guardado em todo pedaço
de corpo
de fome
de sede de sonho

de olhos abertos
sem tato
sem chão

me encolho pro salto
é fato
será
do desejo
ao fim de







20.7.09

Saideira

Provavelmente, essa foi a última vez que fui vista assim, quatro olhos!
Estranho aposentar parte integrante da minha personalidade, mas já era hora, né?
Agora, aos poucos retomo o foco da vida:
Olhos nus, expostos a tudo que é de luz e escuridão.
Ainda embaçados, aos poucos enxergam as cores, formas e texturas
De formas intensas e que jamais pensei existir...
Talvez comece agora, finalmente, a perder o medo de ver a vida como ela é!

19.7.09

Foco

Ainda estou totalmente fora de foco.
A queimação no olho melhorou, mas a sensação de que caiu xampu lá dentro continua...
O tédio é mais perigoso que os olhos que não enxergam!

Estou com saudades do mundo como era antes!
E no fundo, tenho medo de não voltar a ver bem nunca...

Vou fechar a tela.
Os olhos lacrimejam como se acabasse de ver um filme triste...

Hora dos colírios. Ai, arde tantoooo!




16.7.09

O Espírito e o Sufixo

(Bruno Varjão)

Nasci forte como um tauro deve ser, gaudério da cepa boa. Minha querida mãe sofreu as dores do parto do piá que queria ver o mundo. Isso tudo deu-se em 1890, em uma colônia no interior do Rio Grande Sul.

Por mim, falaria apenas Rio Grande, mas me acusam de ser separatista, por que existe um Rio Grande no nordeste e chamam Rio Grande do Norte. Lá não sopra o vento minuano. Por que não Rio Grande Nordeste?! Parece mais bonito, nem lembro o nome da capital, mas somos mais tauras que aqueles do litoral de cima.

Hoje sou velho, vi vidas e mortes, aliás a vida é a morte vivida. Meu pai morreu antes do parto, ficou preso no galpão que pegava fogo. Quando a fumaça saiu das nossas terras e misturou-se ao pôr-do-sol , já era tarde.

Minha mãe tocou a lida campeira sozinha, até eu ter idade suficiente para ajudar a prenda de meu pai e a santa que me colocou aqui. Rédeas curtas, era assim que ela cuidava dos empregados, de mim, das colheitas e do pão.

Fazia preces ao negrinho do pastoreio para que cuidasse de minha santa mãe, da querência e de mim. Fui crescendo e o trabalho aumentando, minha santa mãe envelhecendo rápido e meus deveres campeiros aumentando.

Aos dezesseis anos senti a primeira dor da vida. Minha querida mãe foi levada pela aquela doença. Em seu último suspiro, no canto do cisne, me disse:

- Filho, que tu seja agora um homem de orgulho e lealdade.

Em 1906, meu coração foi fechado pelo luto. Já era um adulto, cuidando do campo e do gado. Larguei a escola e aprendi com a vida o pouco que sei.

Criei em meu pasto a minha identidade, me chamavam de patrão, me obedeciam; e assim segui por dez anos sem parar, enchi a guaiaca e arrendei novas terras.

Com 26 anos, esse velho já era senhor da região, rico de dinheiro e solidão. Foi então que fui buscar novos negócios na capital. Porto Alegre era grande, muito grande para meus olhos. Conheci um comprador que me chamou para trovar durante a janta em sua casa.

Naquela casa, conheci a bondade. Catarina. Irmã caçula do comprador de gado. Logo, pedi fidelidade, nos casamos. Dei algumas cabeças de presente ao irmão que me deu a minha prenda. Cabelos dourados e olhos cor de céu em dias sem nuvem.

Poucos anos depois ela me deu a primeira felicidade, um guri. Guri que logo herdará parte do que tenho, pois a outra parte vai para a pequena prenda que ,hoje, já não é pequena.

Catarina não resistiu ao parto e me deixou só. Tinha minhas crias pra cuidar e a vida para lamentar. Quando a prole cresceu, mandei para a capital, para que fossem doutores. Mais uma vez ficamos eu e o pampa.

Os anos passaram. Meus filhos cresceram e me deram netos.

Aprendi a ser filho quando fui pai, e aprendi a ser pai quando fui avô. Não tenho a mesma força para a lida campeira, mas ainda tenho voz para mandar.

Hoje, meus netos têm a mesma idade de quando me tornei senhor. Minhas mãos tremem quando seguro o mate. Estou morrendo, sou velho.

Via a Catarina sorrir para mim em meus sonhos. Bela como sempre foi.

Vejo a Catarina sorrir agora, me desperta alívio, será o espírito dela?

Peço a São Pedro que sim.

Será meu espírito, agora que morro sozinho junto essa palavra ao final das palavras que me seguiram durante a vida: Lealdade, bondade, fidelidade e felicidade.
Será esse sentimento minha espiritualidade?