15.12.16

Resoluções e atitudes

Esse fim de ano, para mim, já terminou. 2017 começou entre quinta passada e hoje, em alguma suspiro meu.

Essa foi uma semana de silêncios intensos e algumas revelações. Das mais importantes, decidi meditar todos os dias.

Em uma semana, meditei cinco dias, com alguns intervalos para as confraternizações.
Criei uma pequena rotina em que tenho conseguido parar por 25 minutos quando chego em casa do trabalho.

A meditação tem uma função estranha para mim: ela me liberta da soneca das cinco da tarde - horário em que eu tenho um sono quase incontrolável - e também me dá insights, perspectivas e esperança. Esse misto de funções me é uma desculpa perfeito para praticar.

Aliás, quero corrigir: eu não faço meditação, eu tenho sempre a intenção de meditar - porque de fato, a mente em silêncio só existe contada em frames! Mas a intenção - sentar-me diante do Buda, acender a vela, o incenso, e seguir visualizando as imagens do Sutra da Terra Pura, isso sim, me estimula e traz esperança.

No processo da meditação, passo a maior parte dos 25 minutos, eu diria uns 20, fazendo uma força enorme para não fazer força nenhuma, parar de pensar, parar de sentir, parar de chorar (o caso de hoje). E a minha mente, em algum momento, desfalece e finalmente se entrega a esse processo - e se cala. É mais ou menos como aprender a boiar sobre as águas de uma piscina, ou no mar: não é bem a força que você faz que te ajuda. É talvez a força que você não faz!

A intenção no budismo é uma premissa muito recomendada. Toda ação tem que ter uma intenção, um valor atribuído - de preferência, a boa intenção, para gerar o bom carma. Meditar tem que ter intenção. Mas intenção não é sinônimo de técnica, força ou repetição. Porque se fosse, eu já era Buda.

O processo é como tudo na vida: em ondas, em fases, uma coisa assim, bem orgânica, como eu e você.
Hoje, voltei feliz para casa porque a meditação me esperava. Mas quando comecei a meditar, chorei muito, me distraí com as lágrimas, com o catarro que saía do nariz, e com o fato de que eu estava perdendo meu tempo precioso de meditar com a tristeza que sinto das tantas coisas que me rodeiam.

Acho que são esses momentos de insight que são tão preciosos e que levo para a vida afora: me perceber sofrendo enquanto é hora de dirimir o sofrimento! Isso
me pareceu uma perda de tempo! E de fato, o sofrimento se esvaiu quando eu concluí a perda de tempo que ele é! E, olha: minha mente ficou em silêncio por exatos 3 frames! Uma luz dourada desceu sobre a minha cabeça,  chegando até a minha garganta. Senti meu corpo muito presente e ouvi os ruídos lá fora, a música, e a quietude do meu coração. Essa breve experiência me emocionou profundamente e de novo, saí do estado meditativo para me envaidecer da minha própria conquista. Foi um misto de gratidão com orgulho e ó - acabou a mente quieta! Não importa, sei que é assim o meu caminho do silêncio porque eu o tenho trilhado há dez anos.

Mais dez anos passarão, talvez eu jamais consiga mais de 5 frames de silêncio em toda minha vida. Mas por agora, 2017 começa (já) com sentimentos, pensamentos e emoções como nuvens num céu de brisa leve: dissipando, a cada intenção de meditar, tudo de ruim que eu faço para mim e para o mundo; silenciando, mesmo que em conta gotas, todo carma ruim que trago comigo e cessando toda ação que vem de um lugar nefasto do meu ser.

Gashô e feliz ano novo.

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