11.9.06

14 de setembro de 2001

Dormi muito.
O céu ainda cinza.
O cheiro mais forte.

Tomei um banho.
Comi uma banana e vomitei.
Bebi um chá morno e fraco.
Não sentia a dor de cabeça, as mãos trêmulas eram desde ontem

A CNN afirmava que o espaço aéreo estava fechado.
A ABC confirmava a abertura do espaço aéreo para aeronaves domésticas.
Liguei para o Gaudêncio. Vou para o aeroporto. O espaço aéreo está aberto.
- É só para aernoaves em trânsito. Aquelas que foram forçadas a aterrisar.
- Eu sei. Mas eu vou para o JFK. A chave vai ficar debaixo do tapete. Te ligo do Brasil. Um beijo.

Demorei muito para pegar um taxi. Nenhum motorista queria me levar ao aeroporto, fora da cidade. Todos gritavam que estava tudo fechado.
O dia estava fechado. Começou a chover. Eu não queria chorar.

Um jovem jamaicano me levou até a entrada do aeroporto discutindo comigo a viagem toda. Me deixou debaixo da placa JFK - e peguei o micro ônibus que circula dentro daquela mini cidade de companhias aéreas. As grandes, todas fechadas. Em cada parada, descia, pedia informações. Meus pés doíam do frio. A chuva era mais intensa. Eu não sentia sede.
No balcão da Varig, a passagem de primeira classe tinha fila de espera. O vôo sairia no dia seguinte. Todos dispostos a esperar. A minha mãe vai morrer e eu vou estar na fila de espera da Varig.
Peguei o ônibus e fui ao guichê da JetBlue. Entrei na fila. Na minha vez:
- Por favor, vocês estão voando hoje?
- Sim, senhora
- Para Miami?
- Para Fort Lauderdale
- Hoje?
- Sim
- Mas o próximo vôo está lotado
- Não senhora. Ele sai em 30 minutos
- Eu quero uma passagem

Liguei a cobrar para o Brasil. Estou embarcando para Fort Lauderdale. De lá pego um carro alugado para Miami e vejo o que acontece.
Ao meu redor, como eu, as pessoas estavam super bem.
Aluguei o único carro disponível no aeroporto da capital da Flórida - uma limosine preta extra luxo de seis portas. E contei pro motorista que saí de Nova York para estar na cirurgia da minha mãe no Brasil. Ele voou para Miami.
O aeroporto de Miami estava em guerra.
Pelotões do exército andavam em duplas portando sub metralhadoras.
Não havia o que comer. Refrigerantes, só morno. Ou água dos bebedouros.
As filas gigantes eram para o primeiro vôo do dia seguinte - o destino - São Paulo, Brazil.
Um homem de Tóquio que tentou chegar até Montreal. Uma família de Miami que voltava para La Paz para sempre. Eu.
Liguei a cobrar para o Brasil. Estou na fila de espera. Fique calma, mamãe, não estou mais na linha de fogo. Quando abrir os olhos aí, estarei do seu lado. Minha única lágrima foi enxugada com um lencinho brasileiro, da moça paulista na fila do orelhão.
A noite no chão passou tranquila. Quase todos dormiam. Eu mudei de posição. Dei a volta e inventei uma outra fila, para um outro guichê. Eu tenho certeza que amanhã cedo, quando abrirem os balcões, mais de uma fila será atendida. O homem japonês me seguiu.

Se a minha morresse amanhã cedo, na mesa de cirurgia, tenho certeza - seria um sonho ruim. Então, decidi simplesmente não dormir.

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