11.9.06

15 de setembro de 2001

Quando a luz dos balcões começaram a acender, fiquei de pé. Eu precisava urgente fazer xixi. Levantei depressa, senti a tontura dos tantos dias sem comer. O homem japonês guardou meu lugar. Na volta do banheiro, a multidão se aglomerava nas correntinhas ao redor dos guichês. Pus minha mochila nas costas. Minhas pernas tremiam. Os militares armados nos forçavam para trás. Eram seis guichês, uns doze atendentes. A fila se desmembrou sem ordem. Cheguei no guichê quatro.
- Preciso ir para o Brasil
- Só quem tem passagens para hoje
- A minha era para o dia 12 de setembro
- Então, lista de espera
- Esperar por qual vôo?
- Terá que aguardar nova abertura do espaço aéreo. Este será temporário.
- Não posso aguardar. Minha mãe está na mesa de cirurgia nesse exato momento. - A voz sumiu. Engoli duas vezes. Os americanos não gostam de drama.
Um outro atendente
- A lista de espera está encerrada
- Eu não posso entrar em lista de espera nenhuma senhor. O que pode fazer por mim?
- Nada.
- Eu não vou sair da sua frente enquanto não me der uma solução.
- Um momento.
- Pronto. Aqui está sua passagem. Embarque imediato. Boa viagem.
Assim. Desse jeito. Olhei ao redor. Não encontrei o homem japonês. Nem a paulista do orelhão.
Liguei a cobrar para o Brasil. Chego em São Paulo ainda hoje. Eu sei. Eu sei. Eu sei. Um beijo.
O vôo mais longo do planeta.
O homem mais americano e chato do universo.
A melhor melhor melhor aterrisagem do espaço sideral.

Senti meu coração. Parei de sentir minhas pernas. Eu flutuei até o desembarque. Caí no chão e beijei o piso preto sujo, encardido, imundo do aeroporto internacional de Gaurulhos, São Paulo.
Meu tio Jorge, me abraçou.
- A sua mãe saiu da cirurgia e está na UTI. Correu tudo bem.
- Eu derramei cinco dias de lágrimas sem sal, sem água, sem cor.
O cheiro do café forte.
O pão de queijo do quiosque.
O delicioso som do português em todas as bocas que eu olhava.

Eu nunca mais saio do Brasil.

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