10.9.06

10 de setembro de 2001

Passei o próximo dia mais uma vez pela cabeça.
Super organizada, sempre.
Cheguei do trabalho um pouco triste, aquela era uma turma legal. O dia seguinte seria a despedida oficial, passar as tarefas pra frente, dar um alô final e sair mais cedo.
Americanos têm isso - muito importante fechar a gestalt. Dizer adeus e muito obrigado pela oportunidade.

As viagens para o Brasil começavam bem antes de entrar no avião. E dessa vez, com a mamãe prestes a tirar um tumor do cérebro, o medo era tão grande que nem notava.

Ethan em Londres, o apartamento vazio, usei o quarto de hóspedes para organizar a mala, os papéis, a cabeça.
Estava chateada com a viagem dele. Depois da lua de mel que tivemos em Portugal, ficou direto na Europa. Eu voltei sozinha para Nova York. Os dias demoravam a passar. Estava muito apaixonada mas pressentia que a doença da minha mãe seria um divisor de águas na minha relação com ele. Eu jamais deixaria meu parceiro sozinho numa situação tão delicada. Guardei isso no fundo do coração. E não trouxe comigo nenhuma foto.

Separei tudo para a imigração:
- A requisição da permissão para viajar
- Passaporte
- Comprovante da taxa da requisição paga
- E todo o meu processo de greencard em xerox. Just in case.

Na manhã seguinte, era só pegar as fotos 5x6 na esquina da 96th Street e de lá, seguir para o Serviço de Imigração, Downtown. Dali, passaria no World Trade Center e faria umas comprinhas para o pessoal de casa. Uma pena a Lydia não estar na cidade. Seria o dia perfeito para sangrias e comida mexicana na Universtiy Place no final da tarde.

Olhei o e-ticket da Varig, decorei o horário e a data pela milésima vez.
- Nova York-São Paulo dia 12 de setembro de 2001.
- São Paulo-Brasília dia 13 de setembro de 2001.
Ficaria com a mamãe no pré-operatório dia 14 de setembro e a cirurgia deveria demorar a manhã do dia 15.
É. Super super organizada. Nada daria errado. A não ser que o tumor fosse maligno e ela nem sobrevivesse a cirurgia. Afastei o pensamento. Estaria de volta em Nova York em meados de outubro.
Seriam quase dois meses sem ver o Ethan. E de novo, mudei o rumo dos pensamentos.

Fiz faxina.
Tomei banho.
Jantei.
A cama era grande demais. O frio pelas frestas dos lençóis. O maldito aquecedor que não aquece.
O reflexo da rua no teto. A sirene. O louco que grita na outra esquina!

- "ahhhh! We´re all gonna die!!!! ahhhhh!!!!"
Saudade do Brasil, medo, saudade do Ethan, medo, ansiedade, medo, medo, medo.
Eu não precisava de despertador, mas coloquei na cabeceira mesmo assim:

08:30 AM

É. Tudo certo. Super organizada sempre.

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